Um livro recente revela que o governo chileno queria vender a Ilha de Páscoa à Alemanha de Hitler, de modo a reforçar sua frota naval. O presidente Alessandri pediu o equivalente a cerca de R$ 3,7 milhões pelo mítico território insular.
Mario Amorós é o autor do livro Rapa Nui: Una herida en el océano no qual revela que, em 1937, decorreram negociações para vender a Ilha de Páscoa, território isolado no Oceano Pacífico a 3.700 quilômetros da costa chilena, à Alemanha nazista.
Até hoje, sabia-se apenas que o país, governado por Arturo Alessandri entre 1920 a 1925 e entre 1932 a 1938, tentou que os americanos, japoneses e britânicos se interessassem pela ilha, mostrando-se disponível a aliená-la a quem apresentasse a melhor oferta.
Ao El País, o historiador Amorós contou que Alessandri apostava em reforçar sua frota naval porque a Argentina, país que formara com o Peru e a Bolívia uma aliança que ameaçava os interesses chilenos, encomendou oito vasos de guerra aos estaleiros britânicos.
Para o Chile, a ilha de Páscoa era, sobretudo, um lugar marcado pelo estigma da lepra. Para o poder político, era um território distante cedido à Marinha e alugado a uma empresa privada, ou seja, “tinha muito pouco valor“, conta Mario Amorós.
Essa percepção do território, aliada às consequências da grave crise econômica internacional desencadeada com o crash da bolsa americana de 1929, fez com que o Chile quisesse vender a ilha, pedindo cerca de 1 milhão de dólares pelo território (cerca de R$ 3,7 milhões).
Amorós decidiu estudar os negócios secretos que envolveram a Ilha de Páscoa e o governo de Hitler, depois de ter tomado conhecimento da investigação realizada por um especialista nas Forças Armadas chilenas, o historiador húngaro Ferenc Fischer.
Segundo o Público, Fischer tinha encontrado provas de que o governo do Chile mantivera conversas com os nazistas, entre elas um documento, datado de 1937, que resumia uma conversa entre o embaixador do führer em Santiago e o ministro dos Negócios Estrangeiros chileno, destinada a averiguar se a proposta de venda era séria.
Dessa forma, o livro de Amorós é o resultado de um rigoroso trabalho de pesquisa, e nele o historiador explica que só os britânicos explicaram a razão de as negociações mantidas secretas durante décadas não chegarem a avançar.
“Descartaram a compra da ilha porque consideraram que, do ponto de vista militar, seu valor era escasso”, afirma o historiador espanhol.
Além disso, acrescenta, tanto Londres como Washington fizeram questão de frisar que não era conveniente que a ilha fosse parar nas mãos de nenhuma das potências que viriam a encabeçar o Eixo (Alemanha, Itália e Japão).
Com base em muita documentação, a obra de Amorós conta também a história de um povo e de um território desde os primeiros vestígios de ocupação humana encontrados por lá.
Aliás, “Rapa Nui“ é o nome que seus habitantes deram à Ilha de Páscoa, designação que decorre do fato de a descoberta pelos europeus (atribuída ao explorador holandês Jacob Roggeveen) ter ocorrido precisamente no domingo de Páscoa de 1722.
O governo do Chile trabalha, atualmente, em uma lei que irá permitir à ilha readquirir oficialmente seu nome local. Além disso, na quarta-feira (1º), entrou em vigor uma norma, proposta pelo governo de Sebastián Piñera, que limita o acesso de turistas à ilha como medida de proteção da sua fauna e flora.
“Essa ilha é mágica, todo mundo quer visitá-la, mas também é uma ilha delicada que temos de proteger. A nova lei tem como objetivo regular o turismo”, disse o presidente.
Ciberia // ZAP