Trump vive solidão inédita na Casa Branca por erros estratégicos e ataques massivos de adversários

Jason Szenes / EPA

Donald Trump discursa nas Nações Unidas

Donald Trump anda pisando feio na jaca. Mas de tanto vaticinar em vão o seu naufrágio político, seus adversários preferem andar pela sombra. Mas a poucos meses da eleição presidencial, Trump parece perdido.

Como se um sujeito que só joga com cartas marcadas ficasse de repente sem seu baralho favorito. Não é fácil enfrentar ao mesmo tempo a epidemia mortífera da Covid-19, uma profunda crise econômica e uma revolta social e racial massiva.

Mas tentar contornar o desafio jogando lenha na fogueira com tuites furiosos nas redes sociais, mentiras deslavadas e provocações midiáticas é muita areia para o caminhão da opinião pública americana.

O candidato democrata Joe Biden vem ampliando a sua vantagem nas pesquisas e o fiel bloco de eleitores conservadores do presidente vem dando sinais – ainda fracos é verdade – de estar perdendo adeptos.

Hoje, os Estados Unidos são o país mais atingido pela pandemia de coronavírus. Só que desde o começo, Donald Trump fez tudo para minimizar o perigo, promovendo poções milagrosas como a cloroquina ou até desinfetante doméstico na veia, guerreando contra as medidas de confinamento decretadas por governadores de Estados federais, e pedindo aos brados a abertura rápida das atividades econômicas.

Agora que a Europa e vários outros países do mundo parecem antever um abrandamento da epidemia, novos focos da doença continuam se propagando pelo território americano, particularmente no sul do país, na Flórida e no Texas. E não adianta dizer que uma economia parada é mais grave do que o vírus: enquanto o número de mortos e doentes não for controlado, não há economia que aguente.

Essa tragédia sanitária nacional está provocando uma rejeição popular massiva. E não só das minorias étnicas ou dos setores progressistas das grandes cidades – que, tradicionalmente, votam pelo Partido Democrata – mas também de setores importantes dos eleitores republicanos conservadores (as mulheres brancas dos subúrbios de classe média ou as pessoas da terceira idade muito mais vulneráveis à Covid-19).

O ás na manga de Trump

Esse começo de desagregação da base conservadora republicana vem se acelerando com a perspectiva de uma freada brutal do crescimento econômico, com suas milhares de falências e dezenas de milhões de desempregados. Uma economia bombeando é o ás na manga de Trump.

Enquanto o PIB subia, a grande maioria do eleitorado mais conservador ou centrista estava disposto a perdoar a gestão incompetente do governo e as tensões institucionais, sociais e culturais provocadas pelo Presidente. Mas agora, a Casa Branca, junto com o Congresso, jogou pela janela mais de um trilhão de dólares para segurar a atividade econômica.

Mas nada garante que seja suficiente, sobretudo para sair do buraco antes das eleições em novembro. Já várias personalidades do establishment republicano, caladas até agora, vêm criticando Trump abertamente, dividindo o partido.

Mas a gota d’água veio do próprio coração da estratégia do lourão da Casa Branca: a utilização agressiva das redes sociais. O vídeo insuportável do assassinato de um homem negro por um policial branco, compartilhado nas redes, criou um dos maiores movimentos de protesto da história moderna dos Estados Unidos – contra o racismo e pela justiça social. E desta vez, são negros e brancos na rua juntos.

Solidão na Casa Branca

Trump usou e abusou da Internet para polarizar o país e consolidar a sua base eleitoral ultraconservadora. Hoje, é uma coalizão de todos os seus adversários que entra de sola nas redes atacando diretamente Trump e seus tietes. O movimento massivo de contestação conseguiu até provocar inéditas críticas de generais de alta patente contra o Presidente.

Claro, Donald Trump ainda não perdeu a eleição. Basta uma vacina ou um remédio eficaz contra a Covid-19 ou uma rápida aceleração do crescimento econômico para que ele possa de novo passar pelo buraco da agulha. Mas por enquanto, e pela primeira vez, o presidente parece bem solitário no seu bunker da Casa Branca.

// RFI

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