Uma nova espécie de anfíbio, com 208 milhões de anos, o maior descoberto até hoje na Groenlândia, foi anunciada por uma equipe internacional que integra os paleontólogos da Universidade Nova de Lisboa Octávio Mateus e Marco Marzola.
“É sem dúvida o maior anfíbio que temos na Groenlândia, porque este animal tem um crânio de 57 centímetros e um comprimento de 2,5 metros“, afirmou o italiano Marco Marzola, que está em Portugal para sua tese de doutorado sobre vertebrados que há 200 milhões de anos viveram na Groenlândia.
O pesquisador da Universidade Nova de Lisboa é o principal autor do estudo que acaba de ser publicado no Journal of Vertebrate Paleontology, no qual descreve a nova espécie Cyclotosaurus naraserluki em conjunto com o português Octávio Mateus, da mesma universidade, o norte-americano Neil Shubin, da Universidade de Chicago, e o dinamarquês Lars Clemmensen, da Universidade de Copenhague.
Trata-se da oitava espécie de anfíbio Cyclotosaurus que era até agora desconhecida dos paleontólogos, apesar de o crânio e de duas vértebras deste animal já terem sido escavados em 1990 na Groenlândia pelo americano Farish Jenkins, da Universidade de Harvard, e se encontrarem em exposição no GeoCenter Møns Klint, na Dinamarca.
Ao observarem “a arquitetura craniana e pormenores dos ossos do crânio”, como “orifícios no focinho e nos ouvidos”, diferentes de ciclotossauros encontrados na Alemanha e na Polônia, os cientistas concluíram que se trata de uma nova espécie, explicaram à Agência Lusa Octávio Mateus e Marco Marzola.
O ciclotossauro da Groenlândia viveu há 208 milhões de anos, no Triásico, no início da evolução dos dinossauros, e permite aos paleontólogos compararem melhor fósseis de faunas escavadas em diferentes continentes.
Além dos Cyclotosaurus, também foram encontrados os Gerrothorax, outro gênero de anfíbio, na Alemanha, Suécia e Groenlândia.
Para os pesquisadores da Universidade Nova de Lisboa, as descobertas são prova científica de que, ao contrário do que se pensava, os achados paleontológicos da Groenlândia têm mais semelhanças com os da Europa do que com os da América do Norte.
“Sempre afirmamos que os dinossauros do Jurássico de Portugal são mais semelhantes aos da América do Norte do que aos do resto da Europa. Neste caso, é ao contrário”, disse Octávio Mateus. Ele disse ainda que as semelhanças entre os fósseis de Portugal e da Groenlândia se explicam “pela latitude da Groenlândia que, naquele tempo, ocupava uma posição hoje equivalente ao norte de Portugal” e estava “muito mais a sul”.
Há 200 milhões de anos, o sul da Groenlândia se encontrava próximo do norte de Portugal, o primitivo Oceano Atlântico era muito menor e “os animais migravam de um lado para o outro”.
Os paleontólogos portugueses encontraram semelhanças anatômicas entre a nova espécie e o anfíbio Metoposaurus algarvensis, escavado em Loulé, Algarve (sul de Portugal), por uma equipe da Universidade Nova de Lisboa.
O nome da nova espécie resulta da junção do gênero Cyclotosaurus, a que pertence, à palavra naraserluki que, entre a população nativa da Groenlândia, significa “anfíbio salamandra”, frente às semelhanças deste predador com as salamandras, animais que pertencem aos anfíbios atuais.
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