O atacante Cristiano Ronaldo coloca a bola na marca fatal e toma distância, o goleiro não sabe onde ele vai chutar. Ou sabe? Um grupo de pesquisadores portugueses garante ter desenvolvido um algoritmo que acaba com o mito de que os pênaltis são uma loteria.
O projeto de inteligência competitiva no esporte, que ainda não tem nome, está sendo testado durante a Copa das Confederações – em que Portugal foi eliminado na semifinal pelo Chile, justamente nos pênaltis – para aperfeiçoar o algoritmo, e até agora “deu resultados muito bons”, disse à Agência Efe o coordenador do estudo, Alexandre Real.
A ideia surgiu durante a Eurocopa, disputada no ano passado, em que o pesquisador, especialista em liderança e gestão de equipes, trabalhava como comentarista em um programa de rádio, durante no jogo de quartas de final em que Portugal derrotou a Polônia na disputa de pênaltis.
O português se perguntou como os técnicos preparavam as equipes para esta parte do jogo: “Era feito através do ‘chutômetro’, com vídeos e a intuição do goleiro”, explica Real.
A partir daí, ele decidiu realizar um projeto para desenvolver uma ferramenta que, com base científica, permitiria aos técnicos preparar seus batedores e goleiros para melhorar a eficiência nesse quesito.
Com a coordenação científica de João Fialho, professor da American University of Middle East, o grupo de pesquisadores reuniu milhares de vídeos de cobranças de pênaltis em uma base de dados para criar um algoritmo que permitisse prever o comportamento dos jogadores nesses lances.
“Agora mesmo está em 80%, antes do final do ano vai estar desenvolvido 100%”, detalhou Real, garantindo que até o momento não existia nenhum algoritmo deste tipo no mundo do futebol.
O projeto conta com dados das principais competições, como a Liga dos Campeões da Europa, a Copa do Mundo, a Eurocopa e os campeonatos nacionais de países como Espanha, Portugal, Inglaterra e Itália, e já permitiu obter resultados concretos.
“Chegamos a conclusão de que Cristiano Ronaldo é mais eficiente que Messi cobrando pênaltis, ainda que tenha um ponto fraco: bater no meio do gol”, revelou o coordenador do projeto.
O atacante português converte 83% das penalidades máximas que cobra: 89% à direita do goleiro e 85% à esquerda, mas apenas 58% dos chutes são no meio do gol.
“Há sempre um conjunto de vícios que todos os jogadores têm conforme o lado em que batem o pênalti. Por exemplo, há um jogador da seleção do Chile que faz sempre certo tipo de simulação quando vai bater no lado direito e outra diferente quando vai para o esquerdo”, apontou Real, sem revelar o nome do jogador.
O algoritmo tem sempre associada uma margem de erro que depende do jogador e do contexto da jogada.
Segundo as previsões de seus desenvolveres, o projeto começará a ser comercializado a partir de dezembro aos “principais clubes do futebol europeu”, ainda que com uma regra básica: só uma equipe por país e por competição.
“A informação que damos é tão precisa que se a oferecermos a mais de um clube por país, anula o benefício do serviço“, defendeu o coordenador, que estima que uma equipe pode ter entre três e 12 pontos a mais por temporada graças a este estudo.
Além disso, o grupo descarta oferecer o serviço a outros mercados complementares, como sites de apostas esportivas ou estatísticas dirigidas aos meios de comunicação. O grupo ainda revela que a iniciativa não ficará só nas cobranças de pênaltis.
“Identificamos oportunidades de desenvolvimento de mais algoritmos, principalmente no caso de jogadas de bola parada, como faltas e escanteios“, concluiu Real.
// EFE