O primeiro lote de vacinas da Pfizer/BioNTech contra a covid-19 chegou ao Brasil na noite desta quinta-feira (29/4). O desembarque dos imunizantes no Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas (SP), foi acompanhado pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
Nesta primeira etapa, foram entregues 1 milhão de doses produzidas na Bélgica, que fazem parte do acordo assinado pelo Ministério da Saúde com a Pfizer em março, com previsão de um total de 100 milhões de doses até o fim do terceiro trimestre de 2021.
O governo federal disse que vai distribuir as vacinas para as 27 capitais do país entre sexta-feira (30/4) e sábado (1°/5). Embora tenha divulgado que a divisão será “proporcional e igualitária”, o ministério ainda não detalhou a quantidade de doses que enviará para cada local.
Devido à necessidade de baixas temperaturas para manter a vacina da Pfizer, o Ministério da Saúde informou que está orientando que, para essa primeira remessa, a vacinação fique restrita às capitais e, se possível, ocorra em unidades de saúde que possuam câmaras refrigeradas cadastradas na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).As doses chegaram ao Brasil armazenadas em caixas a uma temperatura de -70°C e os estados receberão as doses em temperatura entre -25°C e -15°C (faixa em que podem ficar por até 14 dias), segundo o governo. “Assim que os imunizantes chegarem nas salas de vacinação, na rede de frio nacional (2°C a 8°C), a aplicação na população deve ocorrer em até cinco dias”, informou o ministério.
Quatro meses depois
O Brasil poderia ter recebido ainda em dezembro de 2020 as primeiras doses de vacina Pfizer/BioNTech, se tivesse aceitado proposta da farmacêutica em meados do ano passado.
Esse prazo foi mencionado inclusive pelo ex-secretário de Comunicação do governo Bolsonaro Fábio Wajngarten em entrevista à revista Veja. “Se o contrato com a Pfizer tivesse sido assinado em setembro, outubro, as primeiras doses da vacina teriam chegado no fim do ano passado”, disse.
Pelo menos 3 milhões de doses já teriam chegado ao Brasil até fevereiro se o governo tivesse aderido à proposta da farmacêutica, segundo reportagem do jornal Folha de S.Paulo.
O argumento do governo federal foi o de que não concordava com as condições estabelecidas pelo laboratório e que a empresa não se responsabilizava por eventuais efeitos colaterais da vacina. Mas essas mesmas condições foram impostas a outros países que compraram a vacina, segundo a farmacêutica.
Foi ao comentar sobre a vacina da Pfizer/BioNTech que Bolsonaro falou aquela que se tornou sua mais conhecida fala contra a vacinação: “Lá no contrato da Pfizer, está bem claro: nós (a Pfizer) não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral. Se você virar um jacaré, é problema seu”, disse o presidente.
Em janeiro, o Ministério da Saúde divulgou nota na qual reconheceu ter recusado tentativas iniciais da Pfizer de avançar em negociação sobre a oferta de vacinas e disse, na ocasião, que um acordo com a empresa “causaria frustração em todos os brasileiros”. A nota menciona uma entrega de 2 milhões de doses nos três primeiros lotes e diz que era “número considerado insuficiente pelo Brasil”.
Procurada pela BBC News Brasil nesta terça-feira, a assessoria de imprensa da Pfizer disse que a empresa prefere não se pronunciar sobre o assunto. A reportagem também questionou o Ministério da Saúde sobre a possibilidade de o Brasil já ter recebido mais doses da vacina da Pfizer, mas não recebeu resposta sobre esse tema até a última atualização desta reportagem.
Vacinação e a CPI da Covid
A conduta do governo Bolsonaro em relação à compra de vacinas deve ser um ponto central da análise da CPI da Covid, que teve sua abertura nesta semana e vai investigar “ações e omissões” do governo federal diante da pandemia de coronavírus, além de possíveis ilegalidades no uso de recursos repassados pela União para Estados e municípios atuarem contra a pandemia.
O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, senador Omaz Aziz (PSD-AM), disse, em entrevista à BBC News Brasil, que está “muito mal explicado por que não compramos 70 milhões de doses da Pfizer”.
A comissão aprovou nesta quinta a convocação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e dos três ex-ministros da pasta no governo Jair Bolsonaro: Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e Eduardo Pazuello. Eles começarão a ser ouvidos a partir do dia 4 de maio.
Outras vacinas: mais 5,2 milhões de doses em distribuição
O Ministério da Saúde informou que os estados e o Distrito Federal começam a receber a partir desta quinta-feira (29/04) novos lotes das vacinas da Fiocruz (total de 5,1 milhões de doses da AstraZeneca/Oxford) e do Butantan (104,8 mil de doses da Coronavac).
Segundo o governo, as doses devem ser usadas para a vacinação de pessoas de 60 a 64 anos, além de forças de segurança e salvamento e Forças Armadas que atuam na linha de frente da pandemia.
O Ministério da Saúde recomenda que as pessoas tomem a segunda dose de vacina contra a covid mesmo que esteja fora do prazo recomendado pelo laboratório “para assegurar a proteção adequada contra a doença”.
Neste mês, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, admitiu encontrar dificuldades para a aplicação da segunda dose da Coronavac, uma das vacinas utilizadas no Brasil durante a campanha de imunização contra a covid-19.
Cidades de estados como São Paulo, Rio Grande do Norte, Paraíba, Amapá, Alagoas e Pernambuco precisaram interromper a campanha por falta de estoque suficiente para completar a proteção das pessoas que já haviam tomado a primeira dose anteriormente.
No dia 21 de março, o Ministério da Saúde mudou as diretrizes e permitiu que os Estados aplicassem todas as doses disponíveis, sem deixar reservas para garantir a segunda dose daqueles que já haviam recebido a primeira.
O problema é que, com o aumento da demanda mundial pelos imunizantes, a chegada dos insumos da China sofreu uma série de atrasos. Sem esse material, o Instituto Butantan não consegue finalizar a produção da CoronaVac.
E isso, por sua vez, gera uma reação em cadeia que afeta a disponibilidade de doses nos postos de saúde e emperra o andamento da campanha no país.
// BBC