Uma vala comum gigante descoberta no norte da Inglaterra há quarenta anos é o lugar de descanso final do lendário Grande Exército Pagão que saqueou os reinos celtas da Grã-Bretanha durante a Idade Média.
Segundo um artigo publicado esta sexta-feira na revista Antiquity, a enorme vala comum descoberta no norte da Inglaterra há quarenta anos é o lugar de descanso final do Grande Exército Pagão, o lendário exército nórdico que invadiu e saqueou a Grã-Bretanha.
“A datação correta dos restos mortais dessa vala é muito importante para nós. Não sabemos praticamente nada sobre as primeiras invasões dos vikings contra a Inglaterra, que foram a base para a criação dos primeiros povoados escandinavos na ilha”, explica a arqueóloga Cat Jarman, investigadora da Universidade de Bristol, no Reino Unido.
Segundo a lenda Anglo-Saxã, pequenos grupos de vikings começaram invadindo a costa oriental da Inglaterra no século VIII. Os escandinavos entenderam rapidamente que os mosteiros e igrejas britânicas eram presas fáceis cheias de riqueza e o número das invasões aumentou significativamente nas décadas seguintes.
Quando os reis e senhores feudais anglo-saxões começaram lutando contra os invasores, os vikings mudaram sua tática e enviaram à Inglaterra um exército enorme, que era constituído de milhares de guerreiros originalmente da Dinamarca e da Noruega.
Atingindo a costa da ilha em 865, os vikings destruíram as forças da Nortúmbria e outros reinos anglo-saxões na costa leste, rumaram ao interior do país e conseguiram conquistar Mercia, um dos dois reinos mais fortes dos anglo-saxões. Após a vitória, os guerreiros decidiram invernar na cidade de Repton, no atual condado de Derbyshire.
No final dos anos 70, os arqueólogos descobriram um grande sepulcro perto de uma igreja de Repton onde estavam sepultadas mais de 200 pessoas. Tendo em consideração a forma de enterro, os cientistas concluíram que essa vala comum era um vestígio do mítico Grande Exército Viking.
Entretanto, essas esperanças foram destruídas depois de abertura da vala. Segundo a análise por radiocarbono dos restos mortais, eles datam do século VII ou VIII, se acumulando ali durante muitas décadas, e não do século IX.
Ao mesmo tempo, os fragmentos dos artefatos e armas tinham a idade “correta” que correspondia às datas da invasão do Grande Exército. Isso causou grande polêmica entre os cientistas.
Jarman e seus colegas realizaram mais uma análise dos restos mortais, tomando em conta um detalhe que os seus antecessores não sabiam: a ligação entre a dieta e a composição isotópica dos ossos e outros tecidos orgânicos.
“Se comemos apenas peixe ou outros mariscos, uma grande quantidade de carbono entra no nosso organismo cuja idade é ‘maior’ que a do carbono que entra no nosso organismo pela comida terrestre. Isso influencia os resultados da análise”, explicou Jarman.
Levando em conta esse fato, os cientistas estimaram que todas as pessoas da vala foram enterradas quase simultaneamente em 872-885 a.C., o que corresponde às datas em que os guerreiros do Grande Exército decidiram invernar em Repton.
No futuro próximo, Jarman e seus colegas planejam reverificar a idade das outras valas comuns da alta Idade Média encontradas no leste da Inglaterra para eventualmente descobrir novos vestígios do Grande Exército.
“Este foi o mais bem documentado erro de datação por carbono da história da ciência”, diz ao Sience Nordic o arqueólogo Søren Sindbæk, da Universidade de Aarhus. “Temos agora a oportunidade de corrigir esse erro. E apesar de não podermos concluir ainda com 100% de certeza de que este era o Grande Exército, parece agora muito mais provável”, conclui.
Ciberia // Sputnik News / National Geographic