“Caçador de jihadistas”. Esse é o apelido de Shaker, principal franco-atirador da polícia federal do Iraque, que de um edifício alto no oeste da cidade de Mossul já conseguiu matar 37 membros do grupo terrorista Estado Islâmico.
Às cinco da manhã, Shaker começa a jornada pensando no que fará durante o dia. Uma hora depois, já está sentado em um quarto decrépito de um prédio no centro da metade ocidental de Mossul, onde acontece uma das batalhas mais difíceis para as forças iraquianas.
De uma cadeira de escritório, ele coloca o fuzil SCAR usado pelas forças especiais de combate para vigiar por um pequeno buraco na parede se algum jihadista se movimenta entre os escombros das casas destruídas do centro da cidade.
“Este fuzil era usado pelo ‘Daesh’ para matar civis e membros das forças iraquianas”, contou Shaker à Agência EFE antes de apertar o gatilho.”Agora é meu“.
É ele quem dá as instruções a todos os que trabalham com fuzis na unidade de franco-atiradores da polícia federal iraquiana. Mossul não é a sua primeira batalha. Ele já atuou em outras cidades iraquianas, quando o EI controlava mais territórios no Iraque.
O “caçador de jihadistas“, como os colegas o chamam, observa cada passo suspeito através desse pequeno buraco que não passa de 20 centímetros de diâmetro.
“Este fuzil nunca falha“, garantiu, com um sorriso no rosto, enquanto sustenta o armamento que ele trata como seu fiel escudeiro.
Antes de encerrar o expediente, às seis da tarde, ele avista um alvo. Então, se concentra, mira pela brecha, prende a respiração por um instante e dispara. O estrondo provocado pelo tiro se mistura ao grito de felicidade de Shaker: “Matei, matei!”.
“Já são 37 jihadistas os que eu assassinei. Sempre almejo superar meu número porque o ‘Daesh’ é o nosso grande inimigo. Temos que acabar com eles e por isso estamos aqui. Vou continuar meu trabalho até que conclua a missão”.
O “califado” foi proclamado em 29 de junho de 2014 por Abu Bakr al-Baghdadi, desde então líder do EI, na mesquita de Al Nouri, no lado oeste de Mossul. Agora, esse importante local está a poucos metros de ser recuperado, o que será uma grande perda simbólica para o grupo.
Bate sua hora. Shaker entrega o bastão a Abu Amar, que o acompanha por horas. Antes de apertar o gatilho, Amar elogia: “Ele nunca deixa o seu posto de trabalho, exceto para comer”.
Abu Amar trabalha do pôr do sol ao amanhecer. Geralmente, é durante à noite que os jihadistas se movimentam. Da mesma cadeira usada por Shaker, Amar agora vigia a parte antiga de Mossul, que se caracteriza por vielas estreitas e mercados populares.
“O EI ainda resiste na parte antiga e ataca as nossas forças militares”, diz.
Entre cadeiras espalhadas pelo quarto, um membro da equipe policial, conhecido como Hufi, se apoia para ver de uma lente telescópica onde os jihadistas estão escondidos. Hufi conta à Efe que tem mapas que assinalam “a posição do EI” em Mossul, assim como as possíveis áreas onde os extremistas podem deixar carros-bomba para explodir.
Quando conseguem localizar, chamam à liderança do comando das Operações Conjuntas iraquianas para que se preparem e ataquem com artilharia as posições.
Sua função não acaba aí. Também avisa quando percebe que algum jihadista tenta se infiltrar entre as forças de segurança.
De acordo com o analista militar Amre al Youssef, os franco-atiradores estão tendo “um importante papel” durante esta longa disputa no Iraque, e não só na província de Ninawa – cuja capital é Mossul -, como também nas províncias de Al-Anbar e Saladin, onde o EI também tinha fortificações.
“Os franco-atiradores são vitais para qualquer guerra, especialmente as que acontecem nas ruas”, afirmou Youssef, se referindo a essa etapa militar, que começou em 19 de fevereiro, já que esta parte da cidade se caracteriza pela alta densidade populacional e pelas ruas estreitas.
// EFE