Em Maracaibo, na Venezuela, a energia elétrica falta constantemente. Nos mercados, há carne podre à venda, mas ainda assim a procura aumenta. Por quê? “O que fazer, se é mais barato?”
A Venezuela atravessa, desde 2014, uma profunda recessão, com a inflação em disparada e a escassez dos produtos básicos obrigando muitos cidadãos a abandonar o país. Mas esse não é um problema isolado: há, também na Venezuela, escassez de eletricidade.
Exemplo disso é a cidade de Maracaibo, no noroeste do país, que na segunda-feira (15) foi alvo de uma falha de energia elétrica que afetou 14 estados venezuelanos, incluindo a própria capital, Caracas, deixando cidades sem abastecimento durante várias horas.
Em Maracaibo isso acontece várias vezes no ano. No entanto, essa cidade merece especial atenção dado que é casa de algumas das maiores reservas de petróleo da Venezuela e do mundo. Apesar disso, a cidade atravessa grandes dificuldades econômicas cujo problema das falhas elétricas só piora.
A BBC informa que, faltando luz no mercado local, a carne apodrece. Na Venezuela, um quilo de carne custa cerca de 30 dólares, o equivalente a um terço do salário mínimo do país. Mas a carne, uma vez apodrecida, torna-se muito mais barata. Como o preço diminui, a procura aumenta.
Manuel, um comerciante venezuelano entrevistado pela BBC, conta que esses cortes de energia constantes são alvo de manifestações frequentes. “A luz falta aqui dez vezes por dia, às vezes durante várias horas. No dia seguinte, os produtos estão em más condições.”
Mas a questão que Manuel coloca põe a situação em perspectiva: “O que fazer, se é mais barato?”
Os problemas no abastecimento de energia elétrica não afetam somente os mercados locais, tornando-se muito mais macabros do que imaginar venezuelanos comendo carne apodrecida. O problema se reflete também nos institutos médicos da cidade.
Wilfredo, funcionário de uma casa mortuária em Maracaibo, conta que tem “dois ou três” cadáveres sem refrigeração por semana. Em alguns casos, durante a decomposição, o abdômen chega a explodir devido à acumulação de gases dias após a morte.
“Os corpos apodrecem ao ponto de chegarem a explodir, sim.”