O laudo do Instituto Médico Legal (IML) ainda não foi divulgado, mas há suspeita de que a baixa temperatura registrada na terça-feira (18), na cidade de São Paulo, tenha sido o motivo ou colaborado para a morte de um morador de rua, com idade aproximada de 46 anos, no segundo caso neste ano.
O corpo foi encontrado, às 16h35, na altura do número 455 da Avenida Doutor Arnaldo, próximo ao cruzamento com a rua Teodoro Sampaio.
O local fica bem próximo do maior complexo de atendimento médico público da cidade, o do Hospital das Clínicas e Instituto do Coração, do qual também faz parte o IML central. O homem morreu bem em frente ao cemitério do Araçá.
Segundo a Polícia Militar, um pedestre estranhou avistar, no final da tarde, a mesma cena que seus olhos registraram pela manhã, de alguém enrolado em um cobertor. Mais cedo, achou que se tratava de um morador de rua dormindo ao relento.
A tarde, percebeu que havia algo de errado e alertou a PM que, por sua vez, acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). No entanto, não havia mais o que fazer senão solicitar o recolhimento do cadáver ao IML.
Esse foi o segundo caso neste ano. A outra morte, também de um homem, ocorreu no último dia 10 de julho, na Rua Fernandes Vieira, no Belém (zona leste), quando os medidores de rua da prefeitura registraram frio na média de 9,4 graus Celsius (ºC).
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou ontem (18) a tarde mais fria do ano, na cidade, e a segunda temperatura mais baixa para o período dos últimos 13 Anos, indicando, às 15h, a marca de 10,2°C. Foi o mesmo nível de 2004 e há quatro anos não fazia tanto frio assim nesse horário. Em 24 de julho de 2013, fez 8,6°C.
O recorde da série iniciada em 1961 ocorreu em 12 de julho de 1988 (7,3°C). Neste ano, a menor temperatura nesse horário foi no último dia 2 (15,3°C).
Pastoral
O coordenador da Pastoral do Povo de Rua, padre Julio Lancelotti, lembrou que tem alertado há muito tempo a prefeitura sobre os riscos enfrentados pela população de rua que, segundo as estimativas, já teria ultrapassado mais de 20 mil pessoas.
“Não é de hoje que venho pedindo rapidez no atendimento e cuidado diferenciado porque essa população é heterogênea”, disse.
Para o religioso, é preciso dar respostas diferentes às que ocorrem em albergues e centros de atendimento a cada caso, com encaminhamentos específicos, pois há casais com crianças vivendo nas ruas; há casos de homoafetivos, de idosos, jovens e adolescentes.
Em nota, a prefeitura lamentou a morte do morador e disse que aguarda o laudo técnico do IML sobre a causa da morte. Informou ainda que mesmo com a ampliação de vagas para acolher os moradores de rua, a capacidade é insuficiente para todos os necessitados, pois pode oferecer apenas 11,8 mil vagas.
“Durante a época de baixas temperaturas, estará em operação o Programa Emergencial de Inverno (PEI), com atuação de equipes das secretarias de Assistência e Desenvolvimento Social, Segurança Urbana, Direitos Humanos e Cidadania, além da Coordenadoria Municipal da Defesa Civil (COMDEC)”, informou.
Nesta quarta-feira (19), às 15h, será inaugurada a primeira unidade de acolhimento do PEI, na rua Comendador Nestor Pereira, 45, no Canindé. Nesse local, serão atendidos até 460 pessoas, das 19h às 8h, sob administração da Igreja Adventista.
Além do acolhimento, os conviventes também terão acesso a banheiros equipados com chuveiros com água quente, vasos sanitários, e local para refeições (jantar e café da manhã), seguindo o modelo das unidades de Atendimento Diário Emergencial (Atende), implantados recentemente na região da Luz.
A rede ainda dispõe de dez mil vagas fixas, 1,4 mil vagas criadas exclusivamente para a Operação Baixas Temperaturas, além de cerca de 400 vagas nos Centros Temporários de Acolhimento, que totalizam 11,8 mil vagas.
O comunicado ressalta ainda as ações emergenciais para distribuição de cobertores, roupas e alimentação com a entrega de mais de mil cobertores durante a madrugada de hoje (19).
Na nota, a prefeitura orienta que a população também pode ajudar as pessoas em situação de rua solicitando uma abordagem social por meio da Coordenadoria de Atendimento Permanente e de Emergência (CAPE), que funciona 24 horas por dia, e pode ser acionada pela Central 156.
“A prioridade é atender essa população por meio do Plano de Contingência para Situações de Baixas Temperaturas e zelar pela segurança e bem-estar destas pessoas, além de promover o acolhimento durante os meses mais frios do ano nos equipamentos da rede”, informou a prefeitura.
“A atuação dos Serviços Especializados de Abordagem Social (SEAS) será reforçada em todas as regiões da cidade e poderá contar com o apoio dos profissionais que atuam nos Centros de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centros Pop), Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS)”, acrescentou.
“Os orientadores do SEAS atuam diariamente, das 8h às 22h, realizando abordagens e encaminhamentos, das pessoas que aceitam, para os serviços da rede de proteção social como Centros de Acolhida e Núcleos de Convivência e Centro Temporário de Atendimento (CTA)”, concluiu a prefeitura.