Filha de uma empregada doméstica e de um profissional de curtume (que trabalha com o couro cru antes de enviá-lo para a indústria e atacado), Joana D’Arc Felix nasceu em Franca (SP), em uma família de situação muito humilde.
Sem dinheiro para pagar creche e nem ter com quem deixá-la, sua mãe passou a levá-la ao trabalho todos os dias. Para que ficasse quietinha enquanto ela fazia as tarefas da casa, lhe ensinou a ler com apenas 4 anos. Assim Joana passava seus dias lendo jornais e revistas.
Esta habilidade chamou atenção da diretora do Sesi, amiga da patroa. Em visita à dona da casa, viu Joana com um jornal na mão e lhe perguntou se estava olhando as fotos. Quando a pequena começou a ler perfeitamente pediu que Joana fosse à escola.
Joana foi matriculada na primeira série de uma das turmas do Sesi e conseguiu acompanhar os colegas sem nenhuma dificuldade. O antigo colegial foi concluído quando ela tinha apenas 14 anos e inevitavelmente veio o desejo de ingressar em uma universidade.
Ela não tinha dinheiro para fazer cursinho para entrar em uma universidade pública e nem para morar em outra cidade e fazer uma universidade pública caso passasse. Mesmo assim seguiu adiante.
Recebendo muito incentivo dos pais, dedicou-se a longas jornadas de estudo com o material emprestado do filho de uma professora. Foi aprovada nas disputadas Unicamp, USP e UNESP e escolheu Campinas (SP), a 330 quilômetros de casa.
Nesta fase a situação ficou bastante apertada. O dinheiro que a família mandava mal dava para pagar o pensionato, ônibus e o almoço. O patrão do pai também ajudava, mas ainda assim Joana dormiu com fome muitas vezes.
A situação só melhorou a partir do segundo semestre quando começou a fazer a iniciação científica e passou a receber uma bolsa de R$ 300 mensais da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) até o fim do curso. Cerca de R$ 100 ela mandava para os pais em Franca.
Com apenas 24 anos, ela tornou-se doutora em química industrial na Unicamp. Um dos artigos da cientista saiu no Journal of American Chemical Society, o que lhe rendeu um convite para fazer o pós-doutorado na Universidade de Harvard, nos EUA.
Sua carreira seguia bastante promissora nos Estados Unidos, quando em outubro de 2002, a súbita perda de sua irmã com apenas 35 anos e de seu pai com 1 mês de diferença, lhe trouxeram de volta ao Brasil para ajudar sua mãe na criação dos sobrinhos.
Desde então ela passou a atuar na Escola Técnica Estadual (ETEC) em Franca e desenvolve projetos de pesquisa que já somam 56 prêmios.
Os quatro sobrinhos de Joana decidiram seguir os passos da tia na carreira e ela acredita que incentivar o estudo é sua verdadeira missão tanto com os jovens da família quanto com os alunos.
// Hypeness
São casos como o da Joana, que ainda me fazem acreditar que o Brasil pode um dia ter futuro.