Cerimônia do Nobel da Paz em Oslo tem relato de Setsuko Thurlow, mulher que sobreviveu à bomba nuclear lançada contra Hiroshima. Ela define armas nucleares como “mal extremo”.
A Campanha Internacional pela Abolição de Armas Nucleares (Ican) recebeu neste domingo (10) o Prêmio Nobel da Paz em Oslo e apelou às potências atômicas que se juntem ao tratado de proibição desses arsenais para acabar com essa “ameaça” para a humanidade.
“Representamos a única escolha racional, representamos os que se recusam aceitar as armas nucleares como um elemento do mundo. A nossa é a única realidade possível, a alternativa é impensável”, disse a diretora-executiva da Ican, Beatrice Fihn.
Ela alertou que o risco de que essas armas sejam usadas é maior agora que ao final da Guerra Fria, pela presença de mais países com arsenais nucleares, mais terroristas e pela guerra cibernética.
Fihn recebeu o Nobel em uma cerimônia emotiva ao lado de Setsuko Thurlow, de 85 anos, sobrevivente da bomba atômica lançada em 1945 pelos Estados Unidos sobre Hiroshima, no Japão. Ela definiu as armas nucleares como “o mal extremo” e usou sua experiência para pedir o fim de uma “loucura” intolerável.
A sobrevivente japonesa falou da “lembrança viva” do bombardeio, a sensação de “flutuar” no ar, o colapso da sua escola, os gritos dos seus companheiros e de seu sobrinho Eiji, de quatro anos, convertido em “um pedaço fundido de carne” que continuou pedindo água até morrer.
“Enquanto saía me arrastando, as ruínas ardiam. A maioria dos meus companheiros de classe morreu, foram queimados vivos. Vi ao meu redor uma devastação total, inimaginável”, relatou.
Sua cidade natal – e com ela familiares e 351 colegas da escola – foi apagada, e nos anos seguintes milhares de pessoas morreram devido às consequências da radiação, “que ainda hoje continua matando”.
Thurlow criticou o “mito” de que as de Hiroshima e Nagasaki foram “bombas boas” que acabaram com uma “guerra justa” e as culpou pela “desastrosa” corrida armamentista nuclear.
O prêmio Nobel é distribuído em seis categorias. Na tarde deste domingo, o rei Carlos Gustavo, da Suécia, entregou em Estocolmo os prêmios aos destacados neste ano nos campos da Medicina, Física, Química, Economia e Literatura. Cada Nobel é dotado de 945 mil euros.
Ciberia // Deutsche Welle / EFE