A multinacional francesa Lafarge financiou vários grupos armados na Síria, incluindo o grupo terrorista Estado Islâmico (EI), para manter em funcionamento uma fábrica de cimento, com o conhecimento dos serviços secretos e do gabinete do presidente de França, no Palácio do Eliseu.
Vários dirigentes da empresa cimenteira francesa que, em 2015, se fundiu com a suíça Holcim, dando origem à LafargeHolcim, são julgados na França sob suspeita de terem financiado grupos armados na Síria, incluindo o grupo terrorista Estado Islâmico, para manter em funcionamento uma fábrica de cimento em Jalabiya, no norte do país.
Os pagamentos teriam sido feitos entre 2012 e 2014 com o conhecimento do presidente francês, que na época era François Hollande. A informação é divulgada pelo jornal francês Libération que nota que os serviços secretos também estavam ao corrente.
A publicação cita o depoimento em tribunal do ex-diretor de segurança da empresa, Jean-Claude Veillard, que garantiu que mantinha contatos com vários interlocutores dos serviços secretos franceses, a quem relatava as incidências relacionadas com a instalação em Jalabiya.
No interrogatório perante a juíza do caso, no dia 12 de abril, Veillard assegurou que os serviços secretos estavam informados do “financiamento” de grupos armados por parte da empresa.
Esse responsável contou que manteve 33 encontros com várias pessoas dos diversos serviços secretos franceses, onde diz ter dado “todas as informações” sobre os pagamentos, e a quem eram feitos.
A publicação revela que a Lafarge pagava aos membros do EI “uma soma fixa para atravessar vários pontos de verificação em estradas”, e “uma comissão proporcional” aos pagamentos efetuados pelas transportadoras, além de um valor adicional que era pago “na compra de matérias-primas de fornecedores relacionados com a organização terrorista”.
Além do governo e dos serviços secretos franceses, o Ministro das Relações Exteriores também teria conhecimento desse cenário, de acordo com o Libération.
O jornal refere que as autoridades militares franceses conseguiram, assim, ter uma ideia clara das forças que estavam no terreno, antes de mobilizarem soldados para o local.
A fábrica da cimenteira foi ocupada pelo EI em setembro de 2014, e o grupo terrorista só saiu do local depois da chegada de forças norte-americanas, em dezembro de 2015, que contaram com o apoio dos soldados franceses.
Na época, o EI controlava várias cimenteiras no Iraque e na Síria e há também suspeitas de que a Lafarge aproveitou a paralisação da produção nessas unidades, para lucrar com o grupo terrorista, vendendo cimento.
O Libération repara que os investigadores do caso judicial detectaram uma “troca de e-mails entre vários quadros da cimenteira”, que lançam suspeitas sobre a possível “relação econômica” entre a multinacional e o grupo terrorista.
Ciberia // ZAP