Os Estados Unidos devem realizar sua oitava execução federal de prisioneiros nesta quinta-feira (19), desde a retomada neste verão de uma prática que estava suspensa por 17 anos e à qual o presidente eleito, Joe Biden, se opõe.
Embora quase todos os estados norte-americanos tenham desistido de aplicar a pena de morte desde o início da pandemia, o governo de Donald Trump realizou um número sem precedentes de execuções: sete desde julho de 2020, contra apenas três nos últimos 45 anos.
Apesar da derrota eleitoral do republicano Donald Trump em 3 de novembro, seu governo manteve a execução de Orlando Hall na noite desta quinta-feira (19) na penitenciária federal de Terre-Haute, no estado de Indiana.
O afro-americano de 49 anos foi condenado em 1995, por um júri totalmente branco, à pena de morte pelo estupro e assassinato de uma garota de 16 anos que ele teria espancado e enterrado viva, junto com cúmplices, como parte de um acerto de contas.
“Hall nunca negou o papel que desempenhou na trágica morte de Lisa Rene, mas o júri que o condenou nada sabia dos traumas sofridos em sua infância”, disseram seus advogados Márcia Widder e Robert Owen, que também denunciaram a presença de “preconceito racista” durante o julgamento.
Segundo os advogados, o histórico do condenado à morte “reflete as preocupantes disparidades raciais na pena de morte nos Estados Unidos”, onde 45% dos prisioneiros no corredor da morte são negros, enquanto eles representam apenas 13% da população.
Nos Estados Unidos, a maioria dos crimes é julgada em nível estadual, mas a morte de Lisa Rene ocorreu entre o Texas e o Arkansas, o que explica o envolvimento da justiça federal.
Injeção da morte
À medida que se aproximava a data marcada para sua execução, Orlando Hall apelou à Suprema Corte dos Estados Unidos para contestar o protocolo adotado: uma injeção de pentobarbital, substância acusada de causar terrível sofrimento.
Se o Tribunal se recusar a conceder-lhe uma prorrogação, ele será o primeiro prisioneiro em 131 anos condenado à morte por um governo de “patos mancos”, de acordo com a expressão norte-americana que designa os governantes ao final de seu mandato e derrotados nas urnas, observou o Centro de informações sobre a pena de morte.
Pela primeira vez em quase 70 anos, o governo Trump também planejou executar uma mulher, Lisa Montgomery, em 8 de dezembro. Mas um juiz decidiu na quinta-feira que ela não poderia ser morta em 2020 porque seus advogados contraíram a Covid-19, o que os impede de preparar um pedido de clemência. Os Estados Unidos também planejam executar outro prisioneiro, Brandon Bernard, em 10 de dezembro.
Destacando o risco de erros na aplicação da pena de morte, o democrata Joe Biden, que deve assumir o cargo em 20 de janeiro, se comprometeu a trabalhar com o Congresso para aprovar uma lei que acabe com a pena de morte em nível federal.
// RFI