A seleção brasileira se despediu nesta sexta-feira (7) da Copa do Mundo, ao ser derrotada nas quartas de final pela Bélgica por 2 a 1, e fechou assim um ciclo repleto de êxitos – embora com erros que se refletiram nesta eliminação – que foi iniciado em 20 de junho de 2016.
Foi naquela data que Tite assumiu o comando da seleção no lugar de Dunga, demitido após fracassos em duas edições de Copa América (em 2015 e 2016) e que havia fracassado na missão de apagar a vexatória campanha na Copa de 2014, em casa.
A eliminação diante da Bélgica não chega a ser traumática, como há quatro anos, com a goleada acachapante sofrida para a Alemanha por 7 a 1, em pleno Mineirão, ou como o passeio da França por 3 a 0, na final da edição de 1998. Nem mesmo pior que a derrota para a arquirrival Argentina por 1 a 0, nas oitavas de final em 1990, é verdade.
A badalada “ótima geração belga” ansiava derrubar uma grande seleção em uma Copa e se colocar entre as grandes potências do futebol mundial, ainda mais depois de vencer com muito sofrimento o Japão, o que trouxe desconfiança geral sobre Hazard, De Bruyne, Lukaku e outros. A má impressão foi apagada de forma brilhante, especialmente no primeiro tempo.
O Brasil chegou a se reeguer na etapa complementar, criou inúmeras oportunidades e até diminuiu a diferença no placar, com Renato Augusto. O meia entrou em campo quando a equipe melhorava, depois das entradas de Roberto Firmino e Douglas Costa. Este último foi o maior responsável pela pressão exercida sobre a Bélgica.
A mudança da cara da seleção, inclusive, aponta para um dos pontos fracos do trabalho de Tite, que antes da Copa só havia perdido uma partida, para a Argentina, em amistoso disputado em meados de 2017. No geral, houve pouca variação na forma de jogar, e resistência em ter uma alternativa ao 4-1-4-1 que deu certo com ele no Corinthians.
Vale lembrar que o Brasil conquistou vaga no Mundial com grande antecedência, mas poucos jogadores foram testados em partidas por competição, como contra Equador, Colômbia, Bolívia e Chile, disputadas já com passaporte para a Rússia assegurado.
Jogadores como Roberto Firmino e Douglas Costa, que terminaram a temporada em alta, não conseguiram superar Gabriel Jesus e Willian, que não foram bem nos jogos contra Suíça e Costa Rica, os dois primeiros da Copa. O meia-atacante da Juventus, é verdade, teve problemas musculares antes do torneio e também durante.
Nos cinco jogos disputados pelo Brasil, as mudanças sempre foram forçadas. Danilo deu lugar a Fagner por lesão, assim como Marcelo para Filipe Luís, no jogo das oitavas contra o México. Já no duelo com a Bélgica, Casemiro, suspenso, foi substituído por Fernandinho.
As alterações na forma de atuar aconteceram, exclusivamente, no decorrer dos jogos, como o contra a Costa Rica, no qual Firmino substituiu Paulinho, ou no duelo com os mexicanos, em que não foi necessário trocar jogador, mas houve uma mexida no sistema, que passou a ter dois atacantes mais próximos da área, Neymar e Gabriel Jesus.
As opções de banco, inclusive, viraram um calcanhar de Aquiles para Tite, que “abraçou” o grupo que o levou a liderar de forma tranquila as Eliminatórias e passar bem pelos amistosos, inclusive, com vitória por 1 a 0 sobre a Alemanha. Além dos goleiros Ederson e Cássio, os zagueiros Marquinhos e Geromel, o volante Fred e o atacante Taison não entraram em campo um minuto sequer no Mundial.
Há quatro anos, Luiz Felipe Scolari também recebeu muitas críticas por confiar na base conquistou a Copa das Confederações, sem dar chances ou demorar a apostar em jogadores que estavam em alta, como Miranda, Philippe Coutinho e Diego Costa, optando, por exemplo, por Henrique, Bernard e Jô, que não atravessavam o melhor momento na carreira.
Ao contrário do que se esperava, a seleção não exibiu um futebol exuberante, o que os estrangeiros gostam de chamar de “jogo bonito”. O máximo que conseguiu foi eficiência no duelo contra os sérvios, que valeu classificação às oitavas, e 45 minutos finais de muito ímpeto na vitória sobre os mexicanos.
A decepção maior acaba sendo não estar na reta final de uma Copa em que as seleções mais badaladas ficaram pelo caminho.
Em 2018, pela primeira vez o torneio não terá Brasil, Argentina, Alemanha, Itália ou Holanda na decisão. Dos campeões mundiais, restam apenas França, que já está nas semis, e Inglaterra, que pegará a Suécia, pelas quartas.
A realidade é a que o hexa não virá antes de 2022, quando será realizado o Mundial do Catar. Talvez ainda com Tite no comando. E que os erros do passado sigam como aprendizado para o futuro.
Bruno Guedes // EFE