A estudante Geovana Colavolpe, 24 anos, é uma das 11 pessoas na Bahia que apresentaram os sintomas da doença misteriosa que provoca dores musculares e urina preta.
Ela estava no Litoral Norte, na última semana, com o namorado e um casal de amigos quando perceberam o problema. Todos eles comeram peixe, mas só a estudante e o namorado apresentaram os sintomas.
Eles compraram o peixe conhecido como olho de boi na Praia de Genipabu, região de Guarajuba, na mão de um pescador e fizeram uma moqueca na casa de uma tia.
“A gente comeu na última quinta e sexta, mas foi no segundo dia pela tarde que sentimos uma ‘dorzinha’ atrás do pescoço. À noite, começamos a sentir mais forte, e nas costas. Logo depois, passou para as pernas e braços. Quando percebemos, já estava pelo corpo todo”, contou a estudante.
Segundo a jovem, a dor é muito forte e ficou mais intensa pela noite. “Parece com uma câimbra. Nunca tive essa dor na vida. Não sei nem explicar. No dia seguinte, a sensação era como aquela de quando a gente malha e fica toda dolorida”, explicou.
Sobrinha de ortopedistas, Geovana tomou relaxante muscular, assim como o namorado.
“Fiquei com medo e pensei em ir ao hospital, mas como já era 22h, era difícil ficar rodando. Já sei que anti-inflamatórios não cabe em um caso como é esse. Preferi tomar dipirona, beber muita água e, no dia seguinte, voltamos cedo para Salvador”, contou Geovana.
“Os médicos disseram que o que tomamos foi o certo”, disse a estudante, que foi atendida no Hospital Aliança.
Ela relata ainda que na madrugada do sábado (10), quando as dores diminuíram, o namorado levantou para fazer xixi e percebeu que a urina estava escura como café. “Ele me chamou para ver, mas pela dor ter aliviado, ele pensou que fosse resultado do remédio. Depois, ao longo do dia, foi clareando até voltar ao normal”, lembra.
O casal ficou internado até a última quarta-feira (14), mas devem retornar ao médico na próxima semana para repetir os exames. “Agora, estou tranquila. Meu medo era ser algum vírus, mas nossos exames estavam normais. O médico disse apenas que era para termos cuidados normais, como lavar as mãos, e não ter pânico”, comentou a jovem, aliviada.
Além de Geovana e o namorado, outras nove pessoas foram acompanhadas por conta dos mesmos sintomas.
Apesar dos conselhos da mãe, a modelo baiana Briana Jung, 27, não quis ir ao posto médico do bairro onde mora. “Sempre que vou lá eles dão um diagnóstico simples e não procuram saber o que está causando a dor. Então, eu preferi tomar muita água e usar salonpas nas costas”, explicou.
Esta sexta-feira Briana comentou seu caso no Facebook, e recomenda a quem tiver os sintomas que vá a uma emergência.
Briana estava de férias na Europa e começou a sentir os sintomas um dia depois de retornar ao Brasil. “Na terça-feira (6), a dor começou centralizada no centro das costas. Depois foi subindo para a nuca. Nos dias 8 e 9, a dor foi mais forte. Foi o auge. É uma dor intensa, que não parou e me deixou meio dura”, disse.
Segundo ela, o mal estar foi diminuindo e cessou no dia 12 deste mês. Ela também percebeu a urina amarela escura e sentia ardor ao urinar.
“A dor mais forte se concentrou na região muscular das costas e nuca. Chegava a me dar leve dor na cabeça e no ouvido direito. Cheguei a pensar em meningite, mas como não tive febre ou outros sintomas, não me preocupei com isso”, disse ela, que, apesar de não ter mais os sintomas, decidiu procurar um médico para investigar seu caso.
Diferente de outros casos, ela não consumiu peixe durante ou depois da viagem.
Alerta
Segundo o médico Antônio Bandeira, do Hospital Aliança, todos os pacientes que relataram dores e urina escura se alimentam ou se alimentaram horas antes de peixe.
A relação dos sintomas com a ingestão do alimento também está sendo considerada. Além disso, a outra hipótese do médico é de que um agente transmissor seja responsável pelo problema.
O surto foi informado à Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), que disse, em nota, ter notificado a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Divep) para investigar os casos. As amostras dos pacientes foram coletadas para identificar possíveis vírus ou agentes transmissivos.
Segundo o professor Gúbio Soares, da Universidade Federal da Bahia (Ufba), o laudo que deve indicar qual a causa da doença só será concluído em 15 dias.
Segundo o médico infectologista, quem apresenta os sintomas deve procurar um médico e se hidratar para evitar uma crise renal.