Essa é uma daquelas histórias que poderiam muito bem ser o enredo de um filme sobre jornalismo investigativo.
Aos 25 anos, a estudante de jornalismo da UFPR Débora Sögur Hous desvendou sozinha e sem sair de casa um desvio milionário de bolsas em sua faculdade.
O interesse de Débora pelo assunto surgiu em 2014, quando uma de suas bolsas atrasou. Na época, ela recorreu ao Portal da Transparência para saber se o valor da bolsa havia sido depositado, prática que passou a seguir mensalmente. Com o tempo, a jovem começou a entender como funcionava o portal e detectar dados que fugissem ao padrão.
Ela compilou informações sobre depósitos de valores acima da média que eram feitos para um pequeno número de pessoas – a maioria das bolsas eram depositadas para centenas de pessoas em uma mesma ordem de pagamento.
Com os dados em mãos, mas sem saber como sistematizar as informações, Débora procurou aprender mais sobre técnicas de jornalismo investigativo.
Para isso, fez dois cursos na Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), mais dois na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e também uma oficina do coletivo Livre.jor. Juntando as informações obtidas com os dados que havia coletado, Débora conseguiu entender sozinha como a rede de pagamentos funcionava.
Ela cruzou as informações coletadas com dados públicos do Google e do Facebook e percebeu que algumas das bolsas mais altas eram concedidas a pessoas sem nenhum vínculo com a universidade, como uma cabeleireira, um taxista e uma artesã.
Em janeiro deste ano, a estudante entrou em contato com o jornal Gazeta do Povo, que já trabalhava em uma reportagem sobre o assunto, porém sem a mesma quantidade de dados apurada pela jovem. A apuração feita por ela confere com as informações que foram posteriormente coletadas pela Polícia Federal.
Os dados que Débora apurou passaram a ser apurados pela reportagem, que, antes de a operação “Research” da Polícia Federal ser deflagrada, já havia feito contato com mais de 30 envolvidos, alguns de outros estados, como Mato Grosso do Sul e Rio de Janeiro.
O jornal contatou os supostos bolsistas para dar o direito de explicar quais pesquisas fizeram. Alguns disseram que não tinham qualquer vínculo com a UFPR, e outros tentaram justificar os recebimentos, dizendo que haviam prestado serviços.
Graças ao levantamento de dados que havia sido feito pela estudante, foi possível avançar na cobertura e esclarecer alguns pontos.
Segundo a Gazeta do Povo, Conceição Abadia de Abreu Mendonça, responsável pela gestão do orçamento da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da universidade teria montado uma rede para destinar recursos a conhecidos e pagar despesas pessoais na conta de prestadores de serviços com o dinheiro das bolsas da UFPR.
Para Gil Castelo Branco, secretário-geral da Associação Contas Abertas, especializada em monitoramento de gastos públicos, um dos grandes avanços do combate à corrupção se deve à ampliação da transparência e do controle social.
Em declarações à Gazeta, Gil ressalta que a exigência dos portais criou uma situação inusitada: “hoje a quantidade de informações disponíveis talvez seja maior do que a nossa capacidade de analisa-las”.
Chegou bem na hora, a ajuda de Débora Sögur Hous.
// Hypeness / Gazeta do Povo