“Facebook” e “transparência” são duas palavras que geralmente estão juntas em pautas mais espinhosas, e desta vez não é diferente: segundo uma reportagem veiculada pelo jornal norte-americano The New York Times, a rede social mais popular do mundo deliberadamente deixou de investigar uma suposta campanha de desinformação propagada por um site de notícias por temer represálias vindas do Partido Republicano do país.
O Daily Wire é conhecido pelo público norte-americano por sua agenda pró-Trump e pró-conservadorismo, comumente veiculando notícias com um tom que favoreça o atual presidente dos Estados Unidos e seu partido. O site foi fundado pelo comentarista político, autor e ex-advogado Ben Shapiro, que atua como seu editor-chefe.
De acordo com a reportagem do jornal, as equipes de segurança e relações políticas e governamentais (Public Affairs Policy) do Facebook se confrontaram entre novembro e dezembro de 2019. O time de segurança identificou uma série de mensagens coordenadas e publicações sem indicação de autoria por parte do Daily Wire — uma tática comumente associada a redes de desinformação e veiculação de fake news, segundo fontes do jornal que preferiram o anonimato.
“Alguns membros do time de segurança queriam encomendar uma investigação de tais redes baseadas nos Estados Unidos”, diz um trecho da matéria. “Mas a equipe de relações políticas os desencorajaram, deixando claro que operações de influências externas são mais prioritárias que problemas domésticos”.
Segundo uma pessoa ouvida pelo jornal e que participou de uma das reuniões, havia o receio do time político de que, ao abrir uma investigação contra o Daily Wire e outras redes, uma represália do Partido Republicano viria logo em seguida.
A situação não é confirmada pelo Facebook: seu chefe de cibersegurança, Nathaniel Gleicher, disse ao New York Times que “não se recorda” de nenhum confronto entre as equipes envolvidas, adicionando que a situação identificada pelo time de segurança não trazia as evidências mínimas que justificassem uma investigação aprofundada.
“Nós tomamos nossas decisões com base no comportamento”, ele disse. “Sejam [os usuários] estrangeiros ou domésticos, a pergunta é ‘Eles estão mostrando esse comportamento de forma consistente?’”.
A suspeita, porém, não vem sem motivo, haja vista que diversos relatos da imprensa americana, no passado, apontam que o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, por diversas ocasiões recebeu Ben Shapiro, fundador do Daily Wire; e outros proeminentes nomes do conservadorismo norte-americano em festas e jantares oferecidos por ele ou pela rede social.
O Daily Wire foi procurado pelo New York Times, mas não comentou o caso.
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