Jeff Bezos, um dos homens mais ricos do mundo, anunciou a criação de um fundo de 2 bilhões de dólares para ajudar as famílias mais carentes – e foi duramente criticado.
Jeff Bezos, o CEO da Amazon, anunciou a intenção de doar cerca de 2 bilhões de dólares para financiar “organizações sem fins lucrativos com o objetivo de ajudar famílias carentes e criar uma rede de pré-escolas novas e sem fins lucrativos em comunidades com baixos rendimentos”.
Bezos fez o anuncio no Twitter, o qual termina com uma declaração muito humana: “me enche de gratidão e otimismo fazer parte de uma espécie tão empenhada no autoaperfeiçoamento”.
Embora 2 bilhões de dólares pareça muito dinheiro, o montante representa apenas pouco mais de 1% do patrimônio líquido de Bezos. Ainda assim, a discrepância entre a fortuna do empresário e o fundo milionário não foi o único detalhe a chamar atenção.
Uma reportagem publicada em junho no The Guardian relata casos de funcionários que se machucaram em serviço e acabaram sem casa e sem condições de retornar ao emprego. Em todos os casos, os funcionários trabalhavam nos armazéns Amazon, e eram famosos pela eficiência e rapidez.
Os armazéns da Amazon são conhecidos por terem péssimas condições de trabalho e salários miseráveis. Enquanto que a riqueza dos investidores aumenta e a capitalização de mercado da empresa também, o que torna o negócio tão eficiente é o fato de depender da automação e da mão de obra de baixo custo.
Esse panorama lança o caos perante a atitude filantrópica de Bezos: há um problema de pobreza que o empresário quer contornar investindo seu dinheiro em organizações, em vez de se concentrar em resolver as lacunas sistêmicas da própria empresa.
Os bilionários da tecnologia parecem estar surdos e Jeff Bezos é exemplo disso. No fundo, o CEO da Amazon doa dinheiro para resolver um problema que a própria empresa perpetua, afirma a Fast Company.
Apesar de ter revelado sua visão filantrópica, um dos homens mais ricos do mundo deveria ter voltado as atenções para seu círculo de funcionários. “Há algo de levemente irônico” nos planos de Bezos, desabafou o escritor James Bloodworth, autor de uma investigação sobre as condições de trabalho nos centros de distribuição da Amazon.
“Jeff Bezos pode se promover como um grande filantropo, mas isso não o absolve da responsabilidade se os funcionários da Amazon continuarem com medo de fazer intervalos para ir ao banheiro ou de faltar quando estão doentes por temerem ser alvo de ação disciplinar no trabalho”, denunciou.
As redes sociais se inundaram de críticas relativamente à suposta hipocrisia de Bezos, com muitos citando os esforços da Amazon em reduzir o montante de impostos pagos pela empresa nos Estados Unidos e no exterior.
Ainda assim, Jeff Bezos não tentou sequer disfarçar seu esforço filantrópico do modelo de negócios da empresa: “Vamos usar no fundo o mesmo conjunto de princípios que movem a Amazon”, escreveu em comunicado. “O mais importante será a obsessão genuína e intensa pelo consumidor. A criança carente será o consumidor.”
Ciberia // ZAP