Em um experimento conduzido na Estação Espacial Internacional, dois tipos diferentes de algas foram expostos às condições extremas do espaço – e sobreviveram por nada menos do que 450 dias.
Essa descoberta poderia aprofundar nossa compreensão de como a vida se originou na Terra, e de como podemos ser capazes de nos sustentar durante uma possível colonização de Marte.
As algas foram submetidas a enormes flutuações de temperatura, um vácuo quase total e explosões de radiação cósmica durante 18 meses. Todas as amostras, menos uma, cresceram novas populações quando voltaram à Terra.
As duas estirpes de algas usadas, uma da Noruega e outra da Antártida, se juntam agora a uma lista exclusiva de organismos capazes de sobreviver às condições duras da baixa órbita terrestre. Isso inclui algumas bactérias, fungos e tardígrados, os ursos-de-água.
Plantas resistentes
Pesquisadores do Instituto Fraunhofer em Potsdam, na Alemanha, coletaram duas estirpes de algas conhecidas por suas tendências extremófilas, como a capacidade de suportar o frio e a desidratação.
Especificamente, os cientistas usaram as algas verdes Sphaerocystis, encontradas no arquipélago norueguês de Svalbard, e as algas azuis-esverdeadas Nostoc, nativas da Antártida.
Antes desta experiência, diversos pesquisadores tinham passado anos estudando as estratégias de sobrevivência de algas criófilas, cianobactérias, musgos, fungos e bactérias encontrados em regiões polares.
Já estava bem estabelecido que esses organismos podiam suportar condições extremas em laboratório, mas os pesquisadores não foram capazes de replicar as condições exatas encontradas no espaço. Chegava então a hora de enviar tais plantas resistentes para a Estação Espacial Internacional.
As plantas foram ligeiramente desidratadas em preparação para sua estadia espacial. Em 23 de julho de 2014, foram transportadas para a EEI.
Durante seus 450 dias em órbita, as plantas foram expostas a temperaturas variando de menos 20 graus Celsius durante a noite a 47 graus Celsius durante o dia.
Além de não ter atmosfera para puxar dióxido de carbono e outros gases, as algas foram submetidas a explosões de radiação ultravioleta a níveis que matariam praticamente qualquer outra criatura na Terra.
Sensores foram utilizados para registrar as mudanças de temperatura e as quantidades de radiação cósmica recebida.
Sucesso
Uma vez de volta à Terra, quase todas as amostras se desenvolveram em novas populações. Notavelmente, apenas um espécime não sobreviveu ao calvário.
O próximo passo dos cientistas é obter uma melhor compreensão das estratégias usadas pelas algas para sobreviver. Em particular, eles gostariam de saber o grau em que estas plantas foram danificadas pela radiação do sol.
Essas informações poderiam ajudar nos esforços para proteger os astronautas de condições igualmente duras durante uma missão prolongada no espaço.
Para este fim, os pesquisadores estão planejando conduzir uma análise de DNA das plantas e usar técnicas espectroscópicas para identificar biomoléculas e outras substâncias responsáveis pelos efeitos de blindagem.
As descobertas também poderiam fornecer a cientistas um vislumbre de como a vida primordial era quando as condições na Terra eram muito mais hostis do que são hoje.
Essas plantas e suas estratégias de sobrevivência notáveis também poderiam explicar por que alguns organismos são capazes de escapar de eventos de extinção em massa, como um impacto de asteroide e mudanças climáticas.
Hipótese de Panspermia
Os achados também dão mais credibilidade à Hipótese de Panspermia – a ideia de que meteoros e cometas podem ter trazido organismos simples à Terra, dando assim início à evolução darwiniana.
A pesquisa mostra que certas plantas podem sobreviver à exposição prolongada ao espaço. Quanto a saber se esses seres vivos poderiam suportar ou não os extremos da reentrada atmosférica, é outra história.
Finalmente, o estudo tem implicações para aspirantes a viajantes espaciais que desejam colonizar Marte.
A produção de alimentos no planeta seria essencial para a sobrevivência a longo prazo. As algas produzem oxigênio e proteínas, tornando-as uma boa fonte de alimento. Talvez algumas dessas variedades resistentes possam ser cultivadas em estufas especiais em solo marciano.
// HypeScience