Desde o aparecimento do novo coronavírus que os cientistas têm se esforçado por encontrar um tratamento e uma vacina. Mas muitas equipes também estão trabalhando para determinar como surgiu.
Teria tido origem em um morcego? Em um pangolim? Teria havido vazamento acidental de um laboratório? Seria uma arma biológica? Várias hipóteses têm sido colocadas ou alvo de especulação.
Contudo, uma equipe internacional liderada por Xiaojun Li, da Universidade de Duke (EUA), confirma, em um estudo recentemente publicado, que o vírus é resultado de uma combinação de dois vírus, um do morcego e outro do pangolim.
Segundo o portal Trust My Science, que analisou a pesquisa, as análises anteriormente realizadas do genoma do novo coronavírus eram relativamente ambíguas.
Assim, se alguns cientistas asseveravam que o SARS-CoV-2 tinha vindo de uma população local de morcegos, outros apontavam para os pangolins, mamíferos em vias de extinção e que são comercializados ilegalmente no Sudeste Asiático.
Na realidade, segundo o estudo, ambos são responsáveis, pois o SARS-CoV-2 formou-se com fragmentos de vírus de morcego combinados com vírus dos pangolins, o que teria sido decisivo para a transmissão para humanos.
Como é que vírus de duas espécies diferentes podem se unir desta forma? Através da recombinação genética, uma troca de informações entre dois genomas diferentes ou entre dois cromossomas. Este é, na verdade, um processo essencial para a evolução das espécies. O fenômeno também pode ser observado nos vírus, onde a recombinação pode ocorrer em células infectadas por dois vírus diferentes.
Enquanto na maioria das vezes a troca ocorre entre fragmentos de DNA, uma troca de RNA também é possível (especialmente no caso de certos vírus como a gripe): pedaços de RNA misturados podem formar novas combinações genéticas.
Mas no caso do novo coronavírus, que tem uma molécula de RNA particularmente longa, o processo é diferente: a enzima responsável pela cópia do RNA pode se desprender repentinamente do cordão de RNA copiado, enquanto permanece presa à cópia parcial.
Há dois cenários possíveis: na maioria das vezes, a cópia é abandonada, mas às vezes a enzima consegue se ligar a outro RNA e depois pega a cópia de onde ela parou. Mas, para que isso aconteça, os dois RNAs devem ser muito parecidos, sendo o resultado final uma recombinação de dois vírus diferentes.
Para confirmar a hipótese de recombinação, os autores do estudo examinaram os genomas de 43 coronavírus de diferentes espécies (humano, morcego e pangolim) conhecidos por se assemelharem ao SARS-CoV-2.
Uma análise inicial mostrou que o SARS-CoV-2 estava intimamente relacionado a um coronavírus de morcego, a tal ponto que o seu RNA mostrou 96,3% de semelhança genética com o vírus RaTG13 CoV, coletado de um morcego em Yunnan (China) em 2013.
Mas algumas zonas do RNA pareciam ser de um vírus diferente, não necessariamente da mesma espécie. Para os pesquisadores, era a evidência que houve, de fato, recombinação.
Ao mesmo tempo, amostras de coronavírus de pangolins coletadas nas províncias chinesas de Guangdong e Guangxi apresentaram, respectivamente, 91,2% e 85,4% de similaridade com o SARS-CoV-2.
A amostra de Guangxi apresenta uma diferença significativa em relação ao vírus do morcego: esta diferença diz respeito à proteína de espícula (esporão), existente na superfície do vírus e que permite que ele se ligue às células humanas.
Os pesquisadores lograram determinar que a proteína de espícula, que define com quais proteínas das células humanas pode interagir, é originária de um coronavírus do pangolim.
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