Nosso planeta corre o risco de se transformar em uma “Terra Estufa”, no qual as temperaturas médias serão 4 ou 5 graus mais elevadas, mesmo que se cumpram as metas de redução de emissões de gases com efeito estufa.
Não, esta notícia não se trata de nenhum filme de ficção científica. Pelo contrário: é tão real que os cientistas alertam para o fato de estarmos próximos de entrar em um patamar em que há o risco elevado de a Terra reunir as condições necessárias para se transformar em uma “estufa”.
O estudo, publicado nesta segunda-feira (6) nos Proceedings of the National Academy of Sciences, debruça-se sobre o risco de os sistemas da Terra estarem se aproximando de um ponto de não-retorno a nível climático, a partir do qual nem a parada absoluta de emissão de dióxido de carbono (CO2) pode ser suficiente para impedir que o planeta se transforme em uma “Terra Estufa“.
No fundo, os cientistas afirmam que mesmo que as reduções de carbono firmadas no Acordo de Paris, em 2015, sejam cumpridas e a população mundial consiga reduzir seu consumo de combustíveis fósseis, há um sério risco de a Terra se transformar em uma verdadeira “estufa” e, pior ainda, sem conseguir retroceder.
Se o gelo polar continuar derretendo, a área florestal diminuindo e os gases de efeito estufa aumentando, à semelhança do que tem acontecido todos os anos, o mundo vai chegar a um ponto em que os danos causados serão irreversíveis, algo que pode acontecer dentro de apenas “algumas décadas”.
Em um cenário hipotético, o planeta se transformaria em uma estufa; com a temperatura média 4 a 5 graus mais elevada do que as temperaturas pré-industriais e as florestas desapareceriam, dando lugar às savanas e desertos.
Além disso, o nível médio do mar subiria de tal forma que muitas regiões costeiras desapareceriam, e haveria maior incidência de fenômenos meteorológicos extremos.
No fundo, explica a revista portuguesa Sábado, a Terra pode passar de mitigador do aquecimento global para um agente ativo do fenômeno.
Como evitar este cenário?
Perante este cenário, há duas questões que se impõem: será a população humana capaz de suportar e subsistir a este aumento de temperatura? E a redução das emissões de CO2 até 2020 firmadas no Acordo de Paris conseguirão manter o aquecimento global abaixo dos 1,5 grau ou, pelo menos, menor que 2 graus, de modo a evitar atingir o ponto de inflexão climática?
Os cientistas acreditam que o ponto de inflexão – a partir do qual haverá danos irreversíveis – será quando o aquecimento da Terra atingir 2 graus acima dos níveis pré-industriais.
Segundo explicam, entre o final da década de 80 e 2018, a concentração de dióxido de carbono subiu de 350 para mais de 400 partes por milhão (ppm), enquanto que a temperatura média da Terra continua a aquecer à velocidade de 0,17 graus por década.
Assim, os cientistas sugerem que as emissões humanas não são a única causa que determina a temperatura da Terra – ainda que sejam muito significativas.
“O aquecimento global de 2 graus humanamente induzido pode provocar modificações nos outros sistemas naturais da terra, normalmente intitulados de feedbacks, que podem aumentar ainda mais a temperatura média da Terra – mesmo que paremos de emitir gases do efeito estufa”, explica Will Steffen, professor da Universidade Nacional da Austrália e cientista no Centro de Resiliência de Estocolmo.
“Evitar esse cenário requer um redirecionamento das ações humanas de exploração do planeta para administração sustentável”, sugere.
Mas diminuir a emissão de gases de efeito estufa não será suficiente: será também necessário criar ou, pelo menos, melhorar as concentrações naturais de carbono, através do aperfeiçoamento da gestão das florestas, agricultura e solo; apostar na conservação biológica; e tecnologias que consigam remover o CO2 na atmosfera e retê-lo subterraneamente.
De acordo com o cientista, seria possível nos adaptarmos ao processo de séculos de transformação de “estufa” da Terra, mas seria muito diferente daquilo a que estamos habituados, ou seja, “sem pessoas vivendo nos trópicos, com uma concentração de pessoas no Ártico e na Antártica, com formas completamente diferentes de gerar alimento, com escassez de água e uma normalização dos fenômenos extremos”.
No fundo, o efeito dominó do planeta faz com que os sistemas naturais da Terra permaneçam interligados, o que faz com que a temperatura do planeta tenha consequências que não podem ser travadas, mesmo que se pare hoje com as emissões de CO2.
Ciberia // ZAP