Uma bolsa plástica que imita o útero foi usada para ajudar no desenvolvimento de cordeiros que nasceram extremamente prematuros. O sistema poderá ser utilizado em fetos humanos em até cinco anos, segundo estimativas dos pesquisadores.
“Desenvolvemos um sistema que, de forma mais parecida possível, reproduz o ambiente do útero e substitui a função da placenta”, diz Alen Flake, o pesquisador principal do sistema e médico do Hospital Infantil da Filadélfia (EUA).
O sistema já foi desenvolvido pensando em bebês humanos. Nascer extremamente prematuro é uma das principais causas de mortes em bebês. Quem nasce entre 22 e 24 semanas de gestação, ao invés das 40 esperadas, tem apenas 10% de chance de sobreviver, explica Flake.
Aqueles que sobrevivem, além de serem vulneráveis a infecções nas incubadoras, ainda têm grandes chances de terem problemas de visão e audição. “Eles têm órgãos muito imaturos. Simplesmente não estão prontos para nascer”, diz o médico.
Experimento
O sistema de bolsa de fluidos semelhantes aos encontrados dentro da placenta oferece um ambiente protegido de infecções. Já no lugar da própria placenta, que leva oxigênio e outras substâncias ao feto, os pesquisadores conectaram aparelhos de oxigenação ligados ao cordão umbilical do cordeiro.
Ao invés de bombear oxigênio para os fetos, os cientistas desenvolveram uma técnica que usa os próprios batimentos cardíacos do filhote para movimentar o sangue no equipamento. Eles esperam que este sistema de oxigenação seja menos prejudicial aos bebês do que os usados atualmente em incubadoras, que podem danificar os pulmões dos prematuros.
Nos testes com o sistema, a equipe usou oito cordeiros entre 15 a 17 semanas de gestação, sendo que a gestação normal da espécie é de 21 semanas. Eles foram então removidos por cesariana, colocados nas bolsas, conectados aos oxigenadores e monitorados de perto.
Os fetos foram mantidos nas bolsas por até quatro semanas. A maioria deles então passou por eutanásia e foi examinada. Todos os fetos tinham desenvolvimento saudável, sem anormalidades no cérebro ou pulmão.
Alguns dos fetos “nasceram”. Eles foram removidos das bolsas e criados na mamadeira. O mais velho deles tem hoje um ano de vida, e está bem, segundo a equipe.
Agora os pesquisadores estão trabalhando com o FDA (Food and Drug Administration dos EUA) para desenvolver uma versão do aparelho para bebês extremamente prematuros. O objetivo é utilizar a técnica em fetos de 24 semanas, para que se desenvolvam até a semana 28, quando as chances de sobrevivência são maiores.
O pesquisador Mark Turner, da Universidade de Liverpool (Reino Unido) alerta que qualquer novo tratamento envolvendo prematuros deve ser muito bem estudado antes de teste em humanos. “Tenho preocupações sobre como ajustar os detalhes”, diz ele.
Na década de 1960, por exemplo, bebês recebiam muito oxigênio, o que prejudica a formação de vasos sanguíneos. Em alguns casos, a retina acabava se separando do fundo do olho. “Milhares de crianças ficaram cegas por causa disso, incluindo Stevie Wonder”, lembra ele.
Design diferente
Flake espera desenvolver um equipamento um pouco diferente do testado em ovelhas para os bebês humanos. “Não quero que isso seja visto como fetos em bolsas penduradas na parede”, aponta ele. O objetivo é que o aparelho tenha um visual parecido com uma incubadora, com uma capa e um interior escuro.
Ele também pretende criar um aparelho que permita aos pais se comunicarem com o bebê e vê-lo através de uma câmera. Esta interação é muito importante, já que ter um bebê prematuro é extremamente estressante para os pais, e o ideal para o bebê é continuar ouvindo a voz dos pais.
// HypeScience