Alvo de controvérsia, Plano de Partilha da Palestina completa 70 anos

Nesta quarta-feira (29), o Plano de Partilha aprovado pelas Nações Unidas e que repartia o território do ex-protetorado britânico da Palestina em dois estados: um judeu e outro árabe, completa 70 anos, uma decisão que possibilitou o nascimento de Israel, mudou o mapa da região e abriu um conflito que ainda segue vigente.

A Resolução 181 pretendia pôr fim à denominada “questão palestina”, partindo o território em dois Estados. Mas sete décadas, oito guerras, duas intifadas e milhares de mortos depois, o problema segue sem resolução e continua alimentando a violência.

“A nossa independência, a nossa soberania nesta terra não se baseou só no voto de diplomatas, mas esse voto deu a Israel algo muito especial: um lugar entre as nações”, declarou o presidente israelense, Reuven Rivlin, em mensagem gravada, na qual também pediu à ONU que siga ajudando a encontrar uma solução pacífica.

O denominado oficialmente Plano de Partilha com União Econômica foi proposto pelo Comitê Especial sobre a Palestina (UNSCOP) e estabelecia as fronteiras de dois estados independentes, aos quais concedia um prazo de menos de 11 meses para se formar, e um Regime Internacional Especial para Jerusalém, denominado “corpus separatum”, que deixava a cidade sob administração da ONU.

Aprovada com 33 votos a favor, 13 contra e dez abstenções, a resolução também fixava em detalhes questões de nacionalidade, trânsito, relações econômicas entre os futuros estados e passos a dar por ambos para alcançar a independência.

O movimento sionista, representado pela Agência Judaica, embora com reservas sobre o território atribuído, a população e a questão econômica, aceitou o plano, porque entendeu que necessitava de apoio diplomático nesse momento.

No entanto, os residentes palestinos e o mundo árabe o rejeitaram plenamente, argumentado que violava a Carta das Nações Unidas – que outorga aos povos capacidade de decidir sobre seu destino – e advertiram que não aceitariam nada que supusesse a partilha ou segregação do país e que desse direitos preferentes aos que então eram uma minoria.

A repartição dava 56% da terra ao futuro Israel e 46% à Palestina, em um momento em que o território estava habitado – segundo o censo britânico de 1945 – por 553 mil judeus (31%) e 1,19 milhão de árabes (68% da população, uma pequena parte deles cristãos e o resto muçulmanos).

A medida internacional buscava dar saída às consequências do trágico Holocausto, no qual cerca de seis milhões de judeus foram assassinados e muitos sobreviventes exigiam um Estado próprio onde poderiam estar a salvo, por isso que previa uma forte migração judia.

A rejeição árabe ao plano levou à explosão da primeira guerra no dia seguinte após o Reino Unido tirar suas tropas da região (14 de maio de 1948), como exigia a resolução, e a Agência Judaica a proclamar o estabelecimento do Estado de Israel.

A disputa foi encerrada com o Armistício de 1949 entre Israel e Egito, Jordânia, Líbano e Síria, com uma grande perda de território árabe sobre o Plano de Partilha (78% do território passou a ser israelense), que incluía cidades de Acre, Nazaret, Bersheva e Yafa.

Rivlin, de 78 anos, ainda lembra como quando criança estava dormindo e despertou naquela noite perante os gritos de seus parentes, reunidos em torno do rádio para escutar o resultado da votação.

“O voto na ONU de 29 de novembro de 1947 permanecerá na memória do povo judeu para sempre”, afirmou em sua mensagem, ao lembrar a sensação alegre de seu povo ao saber que “após a alegria esperava a tristeza” e que após o reconhecimento, seguiria a violência.

Hanan Ashrawi, do Comitê Executivo da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), tem um olhar muito diferente sobre o plano da ONU, que nunca teve efeito além da criação de Israel.

“Com a partilha da Palestina histórica, começou a vitimização e o sofrimento do povo palestino. O Estado de Israel foi criado às custas do povo indígena, que foi violentamente arrancado da terra”, lamentou.

As consequências da 181, assegura, são a “usurpação, dispersão e exílio de uma população em massa de refugiados, a discriminação sistemática e opressão (aos palestinos que ficaram) dentro de Israel devido ao seu sistema racista e excludente, e o cativeiro e escravidão sob ocupação dentro de 22% restante da Palestina histórica”.

Nestes dias, Ashrawi e outros líderes palestinos pediram ao mundo que “retifique” o dano causado à população palestina pela resolução reconhecendo, sete décadas mais tarde, uma Palestina independente.

Ciberia // EFE

COMPARTILHAR

DEIXE UM COMENTÁRIO:

Como é feito o café descafeinado? A bebida é realmente livre de cafeína?

O café é uma das bebidas mais populares do mundo, e seus altos níveis de cafeína estão entre os principais motivos. É um estimulante natural e muito popular que dá energia. No entanto, algumas pessoas preferem …

“Carros elétricos não são a solução para a transição energética”, diz pesquisador

Peter Norton, autor do livro “Autonorama”, questiona marketing das montadoras e a idealização da tecnologia. Em viagem ao Brasil para o lançamento de seu livro “Autonorama: uma história sobre carros inteligentes, ilusões tecnológicas e outras trapaças …

Método baseado em imagens de satélite se mostra eficaz no mapeamento de áreas agrícolas

Modelo criado no Inpe usa dados da missão Sentinel-2 – par de satélites lançado pela Agência Espacial Europeia para o monitoramento da vegetação, solos e áreas costeiras. Resultados da pesquisa podem subsidiar políticas agroambientais Usadas frequentemente …

Como o Brasil ajudou a criar o Estado de Israel

Ao presidir sessão da Assembleia Geral da ONU que culminou no acordo pela partilha da Palestina em dois Estados, Oswaldo Aranha precisou usar experiência política para aprovar resolução. O Brasil teve um importante papel no episódio …

O que são os 'círculos de fadas', formações em zonas áridas que ainda intrigam cientistas

Os membros da tribo himba, da Namíbia, contam há várias gerações que a forte respiração de um dragão deixou marcas sobre a terra. São marcas semicirculares, onde a vegetação nunca mais cresceu. Ficou apenas a terra …

Mosquitos modificados podem reduzir casos de dengue

Mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia podem estar associados a uma queda de 97% nas infecções de dengue em três cidade do vale de Aburra, na Colômbia, segundo o resultado de um estudo realizado pelo …

Chile, passado e presente, ainda deve às vítimas de violações de direitos humanos

50 anos após a ditadura chilena, ainda há questões de direitos humanos pendentes. No último 11 de setembro, durante a véspera do 50° aniversário do golpe de estado contra o presidente socialista Salvador Allende, milhares de …

Astrônomos da NASA revelam caraterísticas curiosas de sistema de exoplanetas

Os dados da missão do telescópio espacial Kepler continuam desvendando mistérios espaciais, com sete exoplanetas de um sistema estelar tendo órbitas diferentes dos que giram em torno do Sol. Cientistas identificaram sete planetas, todos eles suportando …

Em tempos de guerra, como lidar com o luto coletivo

As dores das guerras e de tantas tragédias chegam pelas TV, pelas janelinhas dos celulares, pela conversa do grupo, pelos gritos ou pelo silêncio diante do que é difícil assimilar e traduzir. Complicado de falar …

Pesquisa do Google pode resolver problemas complexos de matemática

O Google anunciou uma série de novidades para melhorar o uso educativo da busca por estudantes e professores. A ferramenta de pesquisa agora tem recursos nativos para resolver problemas mais complexos de matemática e física, inclusive …