A vida parece ser o resultado de um conjunto de constantes físicas fundamentais e perfeitamente ajustadas. Se as lei da física fossem diferentes, não estaríamos aqui para debater essa questão. Então, será tudo uma questão de coincidência ou sorte?
A teoria do Multiverso sugere que o nosso Universo é apenas um no meio de tantos outros em um Multiverso infinito, no qual novos universos nascem constantemente. No entanto, apesar desta multiplicidade, faria sentido que houvesse um universo com estranhas configurações, perfeitamente ajustadas, que permitissem vida.
Agora, uma nova descoberta, publicada recentemente nos Monthly Notices, da Royal Astronomical Society, sugere que, afinal, não é bem assim: a vida pode ser muito mais comum em universos paralelos do que pensávamos.
Embora (ainda) não existam provas físicas da existência de universos paralelos, as teorias que explicam como surgiu o Universo parecem ser inevitáveis. O nosso Universo começou com o Big Bang, que foi seguido de um período de expansão muito rápido, conhecido como inflação.
No entanto, de acordo com a física moderna, é improvável que a inflação tenha sido um evento único. Em vez disso, muitas áreas diferentes do Cosmos poderiam ter se expandido subitamente, isto é, cada “bolha” criaria, por si só, um único universo.
Enquanto alguns acreditam que no futuro poderemos testemunhar impressões de colisões com universos paralelos, outros, pelo contrário, consideram que o Multiverso não passa de uma peculiaridade matemática.
Energia escura
Cerca de 70% do Universo é representado por uma misteriosa e desconhecida força, apelidada de energia escura. Segundo o SingularityHub, em vez de o Universo desacelerar à medida que se expande, a energia escura faz com que sua expansão acelere.
Muitas das teorias atuais sugerem que a energia escura deveria ser muito (mas muito) mais abundante, graças ao Multiverso. A maioria dos universos deve ter uma abundância gigantesca em relação ao nosso, mas se a energia escura fosse assim tão abundante, o universo se separaria antes que a gravidade conseguisse reunir matéria para formar galáxias, estrelas, planetas e até pessoas.
O nosso Universo tem um valor estranhamente baixo de energia escura, e é esse valor que torna o nosso Universo hospitaleiro de vida.
Todavia, a teoria exige que o valor do nosso Universo para a abundância de energia escura esteja próximo do máximo permitido para que a vida inteligente exista, dado que valores maiores de energia escura devem ser mais comuns no Multiverso do que valores menores.
Em simultâneo, esperamos que a vida exista apenas em um grupo muito pequeno de universos com um valor abaixo do máximo – aquele que permite que a matéria se agrupe para formar estrelas e galáxias.
Isso significa que universos com um valor comparativamente alto de energia escura (próximo do máximo) hospitaleiros à vida devem ser mais numerosos do que universos com valores baixos (próximos do mínimo).
Mal qual é esse nível máximo?
O modelo computacional do Universo – o projeto EAGLE – desenvolvido pelos cientistas envolvidos no estudo, fez uso de simulações de computador para explicar as propriedades das galáxias do nosso Universo – e fez isso com sucesso.
Através do projeto, os cientistas tornaram possível (e de maneira convincente) estudar como a formação de estrelas e galáxias continuaria em outras partes do Multiverso.
Os cientistas criaram um conjunto de universos, gerados por computador, muito idênticos, mas com diferentes quantidades de energia escura. Inicialmente, os universos se expandiram em proporções semelhantes, mas, à medida que a energia que sobrou do Big Bang se dissipou, o poder da energia escura se tornou importante. Os universos com muita energia escura aceleraram bastante sua expansão.
No entanto, e para surpresa dos pesquisadores, os universos “bebês” com 100 vezes mais energia escura produzem quase tantas estrelas e planetas quanto o nosso próprio Universo. Isso quer dizer que o nosso Universo não tem um valor de energia escura próximo do máximo.
Segundo a pesquisa, a vida seria bastante comum em todo o Multiverso, talvez milhares de milhões de vezes mais comum do que pensávamos até agora. Assim, os cientistas são forçados a concluir que o valor da energia escura não explica o motivo pelo qual estamos aqui.
Ciberia // ZAP