Aliados em cenário de divisões em cúpula no Japão, presidentes repetem tom do encontro de março na Casa Branca e compartilham afagos. Para americano, Brasil e EUA nunca estiveram tão próximos.
O presidente Jair Bolsonaro se reuniu nesta sexta-feira em Osaka, no Japão, com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. No encontro, à margem da cúpula do G20, os dois líderes fizeram trocas públicas de elogio.
O tom dos dois líderes foi o mesmo mostrado em março na Casa Branca, quando Bolsonaro visitou Trump. O presidente brasileiro disse torcer admirá-lo e torce pela reeleição do americano , que, por sua vez, afirmou que a relação entre EUA e Brasil vive o melhor momento de sua história.
“Ele é um cara especial, está indo muito bem, é muito amado pelo povo do Brasil”, afirmou Trump sorrindo a jornalistas, sentado ao lado de Bolsonaro. “Acho que dá para dizer que EUA e Brasil nunca estiveram tão próximos”.
Bolsonaro convidou Trump a visitar o Brasil e disse “gostar muito” do presidente americano “desde antes da eleição”. “Sempre o admirei desde antes das eleições, temos muita coisa em comum. Somos dois grandes países que juntos podem fazer muito pelos seus povos”, afirmou.
“Iremos ao Brasil“, respondeu Trump, que desde que chegou ao poder em 2017 só visitou um país da América do Sul, a Argentina, e agora disse ter “vontade” de viajar para o país de Bolsonaro.
Os dois líderes tiveram um encontro a portas fechadas. O porta-voz da Presidência, general Otávio Rêgo Barros, disse que entre os assuntos tratados estiveram a crise da Venezuela, o ingresso do Brasil na OCDE e relações comerciais.
Segundo a Casa Branca, Trump e Bolsonaro também falaram sobre “riscos associados às atividades chinesas no Ocidente“. Tanto Bolsonaro quanto Trump têm um encontro privado marcado com o presidente da China, Xi Jinping.
Venezuela, China e clima
Após a troca de elogios, os dois presidentes responderam a perguntas da imprensa. Um dos assuntos abordados foi a guerra comercial com a China. Indagado sobre qual seria o papel do Brasil, se o país poderia ajudar os EUA, Trump disse: “Não é uma questão de ajuda, é uma questão se vamos ou não fazer algo. Como temos uma boa oportunidade, vamos ver o acontece, no fim as coisas vão acontecer e boas coisas acontecem.”
Sobre a Venezuela, Trump afirmou, ao ser questionado se o momento para impulsionar uma solução para a crise havia passado, que “as coisas levam tempo”. Ele destacou que “há uma crise humanitária” no país sula-americano e que isso “mostra o que socialismo pode fazer”. Brasil e EUA estão entre os países que reconhecem o opositor Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela.
Bolsonaro é um dos poucos aliados de Trump em uma reunião do G20 tida como uma das mais turbulentas em anos, com disputas sobre comércio, mudanças climáticas e tensões no Oriente Médio na agenda.
A chegada de Bolsonaro e sua comitiva ao Japão foi conturbada. Pouco depois de desembarcarem, eles reagiram duramente às declarações de líderes europeus que manifestaram preocupação com a política ambiental do Brasil. O principal alvo dos brasileiros foi a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, que disse desejar ter uma discussão com Bolsonaro sobre o desmatamento.
O presidente não reagiu bem à fala da alemã e disse que o “presidente do Brasil que está aqui não é como alguns anteriores que vieram para serem advertidos por outros países”.
Mais tarde, foi a vez de o general Augusto Heleno, titular do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), reagir – de maneira mais exaltada – não só à fala de Merkel, mas também a uma declaração do presidente francês, Emmanuel Macron, de que a França não assinará qualquer acordo comercial com o Mercosul caso o Brasil se retire do Acordo de Paris sobre o clima, como já ameaçou Bolsonaro.
Assim como Bolsonaro, Trump é considerado um cético em relação às mudanças climáticas. O presidente americano tirou os EUA do acordo climático de Paris e, desde que chegou ao poder, entrou várias vezes em conflito com os europeus, a ponto de a relação transatlântica ser descrita como no pior estado desde a Segunda Guerra Mundial.
Os países do G20 têm pontos de vista muito diferentes sobre a mudança climática, com o governo de Trump sendo visto como um dos principais opositores das tentativas, encabeçadas pelos europeus, de mudar a economia global em direção a uma menor produção de carbono.
Ao fim do encontro desta sexta-feira, Bolsonaro publicou no Twitter uma foto ao lado de Trump, fazendo sinal de positivo, e um vídeo da reunião. O brasileiro, assim como ocorreu durante sua passagem pela Casa Branca em março, não foi mencionado pelo americano na rede social.