O ministro Alexandre de Moraes, relator no Supremo Tribunal Federal (STF) do inquérito que investiga atos antidemocráticos ligados a apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, determinou a quebra de sigilo bancário de 11 parlamentares bolsonaristas.
A medida atinge o senador Arolde de Oliveira (PSD-RJ) e mais dez deputados federais: Alê Silva (PSL-MG), Aline Sleutjes (PSL-PR), Bia Kicis (PSL-DF), Carla Zambelli (PSL-SP), Caroline de Toni (PSL-SC), Daniel Silveira (PSL-RJ), General Girão (PSL-RN), Guiga Peixoto (PSL-SP), Junio Amaral (PSL-MG) e Otoni de Paula (PSC-RJ).
A quebra de sigilo visa apurar se esses parlamentares, membros da base de apoio bolsonarista, atuaram no financiamento de atos antidemocráticos, que lançaram ameaças ao Congresso Nacional e ao próprio STF, defendendo o fechamento dessas instituições.
A medida atende a um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) e ocorre no âmbito do inquérito aberto no Supremo após manifestações realizadas em 19 de abril. O pedido de abertura da investigação havia sido feito por Augusto Aras, procurador-geral da República.
Carla Zambelli, uma das deputadas alvo da decisão de Moraes, usou o Twitter para compartilhar uma imagem do que diz ser sua conta bancária, com um total de 5.868 reais, negando ser uma parlamentar corrupta.
“Já adianto aqui o estado atual dele [saldo bancário], Alexandre de Moraes. Como pode ver, não sou uma deputada corrupta. Não deveria ser atrás destes que o senhor deveria usar toda esta agilidade?”, questionou Zambelli, uma forte aliada do presidente.
Já o deputado Junio Amaral revelou que apenas soube das determinações do ministro pela imprensa e denunciou que os apoiadores de Bolsonaro não têm seus direitos garantidos.
“Eu pouco importo para o que verão lá [na conta bancária], mas chegamos no extremo. Direitos e garantias fundamentais garantidos, salvo se apoiador do presidente”, escreveu no Twitter. “Diante tamanha e reiterada injustiça do maior órgão que deveria garantir o cumprimento da lei, não vislumbro como recorrer a alguém que não seja a Deus, o de verdade.”
Segundo o jornal O Globo, Moraes determinou ainda que as redes sociais Facebook, Youtube e Instagram forneçam relatórios sobre pagamentos feitos a páginas pró-Bolsonaro que fazem apologia a atos antidemocráticos. O objetivo é descobrir se blogueiros e militantes bolsonaristas estão sendo remunerados por publicações de ataque a instituições democráticas.
Mais cedo nesta terça-feira, a Polícia Federal (PF) realizou uma operação de busca e apreensão contra mais de duas dezenas de alvos, incluindo aliados de Bolsonaro. A ação também foi autorizada por Moraes no âmbito do mesmo inquérito.
Foram emitidos 21 mandados contra alvos em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Maranhão, Santa Catarina e Distrito Federal. De acordo com os investigadores, a operação tem o objetivo de levantar provas sobre a organização dos protestos e as fontes dos recursos que financiam os grupos por trás dos atos.
Entre os alvos da operação está o empresário Luís Belmonte, um dos principais financiadores do Aliança pelo Brasil, partido que Bolsonaro pretende criar, mas ainda não foi formalizado. Ele é o primeiro suplente do senador Izalci Lucas (PSDB-DF) e proprietário de um time de futebol em Brasília.
Também foi alvo o publicitário Sérgio Lima, outro envolvido na formação do Aliança pelo Brasil. Ele teria sido o criador do logotipo, do portal de internet e do aplicativo para coletar assinaturas para a criação da legenda.
O deputado bolsonarista Daniel Silveira (PSL-RJ), que teve seu sigilo quebrado, também foi alvo da operação. Em 2018, juntamente com o deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL-RJ), Silveira quebrou uma placa em homenagem à vereadora Marielle Franco, assassinada em março de 2018, durante um comício de Wilson Witzel, à época candidato a governador do Rio de Janeiro.
Entre os demais alvos da ação estão os blogueiros bolsonaristas Allan dos Santos, do site “Terça Livre”, e Alberto Silva, do canal “Giro de Notícias”, além do youtuber Ravox Brasil.
Já na segunda-feira, a Polícia Federal realizou uma operação, no âmbito do mesmo inquérito, contra membros de movimentos antidemocráticos e cumpriu seis mandados de prisão, após autorização do STF. Um dos alvos foi a líder do movimento de extrema direita “300 do Brasil” Sara Fernanda Giromini, conhecida como Sara Winter.
Ela foi uma das organizadoras de um acampamento na Esplanada dos Ministérios que reunia militantes a favor do governo Bolsonaro desde o início de maio, que acabou sendo desmantelado no último sábado por ordem do governo do Distrito Federal, com a ação de policiais militares. Os integrantes do grupo admitiram haver armas no local.