A Airbnb divulgou nessa semana um prospecto de oferta pública inicial de ações (IPO, na sigla em inglês). A empresa vai em frente com o processo, mesmo sendo fortemente impactada com a pandemia da COVID-19, que atingiu em cheio o setor de turismo. A listagem será feita na Nasdaq, em Nova York e está programada para acontecer em dezembro deste ano.
No documento apresentado à Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC), o Airbnb registrou receitas de US$ 2,52 bilhões nos primeiros nove meses de 2020. Trata-se de uma queda de 31,8% em comparação ao mesmo período ano anterior, quando a companhia faturou US$ 3,7 bilhões. Além disso, o prejuízo líquido também disparou nesse período. Em 2019, ele foi de US$ 323 milhões e, nesse ano, US$ 697 milhões, um aumento de 115%.
É importante dizer que tais resultados foram influenciados pela pandemia do coronavírus, que manteve boa parte da população mundial dentro de suas casas, cancelando suas viagens e reservas de hotéis e residências particulares. Além disso, no último trimestre, a Airbnb também apresentou resultados melhores, com US$ 219 milhões de lucro e receita de US$ 1,34 bilhão (queda de 18% em comparação ao mesmo período de 2019).
O Airbnb disse que seu cofundador e CEO, Brian Chesky, permanecerá no controle da empresa após o IPO graças às ações com direitos de voto especiais. Ele também concordou com um corte em seu salário base de US$ 110 mil para US$ 1 em meio ao corte de custos.
Em troca, a empresa aprovou estoques de ações restritas para Chesky nos próximos 10 anos e que podem valer US$ 120 milhões, se os papeis da empresa atingirem certas metas. Ele pretende doar a receita líquida deste prêmio para a comunidade, causas filantrópicas e de caridade, disse a Airbnb.
Por outro lado, empresa também revelou que enfrenta uma pesada cobrança de impostos. Ela disse que foi informada pelo US Internal Revenue Service que devia US$ 1,35 bilhão, mais multas e juros, pela venda de propriedade intelectual internacional a uma subsidiária em 2013. O Airbnb disse que iria “contestar vigorosamente” o ajuste fiscal.
Queda brusca
Atingida pelo coronavírus, a receita do Airbnb teve queda de 72% no segundo trimestre deste ano – auge da pandemia no Hemisfério Norte. Com uma queda tão abrupta, a empresa se viu obrigada a demitir 25% do seu quadro de funcionários mundo afora, totalizando cerca de1.900 pessoas. Antes das demissões, a companhia possuía 7.500 funcionários. Além disso, a startup interromperá projetos relacionados a hoteis, uma divisão de transportes e estadias de luxo.
Além disso, quando a crise da COVID-19 começava a se avolumar mundo afora, o Airbnb recebeu críticas dos donos de imóveis que tinham parceria com a empresa. Na época, eles afirmaram que as políticas de cancelamento da empresa não estavam claras em meio à inevitável série de desistências causadas pela pandemia. Essas críticas levaram ao estabelecimento de um fundo de US$ 250 milhões para cobrir os custos dos anfitriões.
Novos hábitos
A ligeira recuperação do Airbnb no terceiro trimestre deste ano se dá pela mudança de hábitos de seus usuários diante do coronavírus.
Em entrevista ao site do canal CNBC, Chesky afirmou que neste verão no hemisfério norte, as pessoas não estavam viajando tanto para grandes cidades como Nova York, Chicago e Los Angeles. Mas elas estavam procurando cabanas à beira do lago ou nas montanhas para passar um fim de semana de férias ou como uma escapada por um mês, mesclando folgas e trabalho remoto.
“Eles decidiram entrar em seus carros e viajar perto de casa, geralmente ficando em pequenas cidades e comunidades rurais”, escreveram os fundadores do Airbnb em sua carta aos possíveis acionistas no processo. “Nosso negócio se recuperou mais rápido do que qualquer um esperava e mostrou que, conforme o mundo muda, nosso modelo é capaz de se adaptar.”
Compare isso com a gigante de viagens online Booking Holdings , que no início deste mês relatou que a receita do terceiro trimestre caiu 48% devido aos bloqueios e restrições de viagens e “continuam a impactar as viagens no curto prazo”, disse o CEO da companhia, Glenn Fogel. A Expedia se saiu ainda pior, com as vendas despencando 58% no período e as perspectivas de um “caminho prolongado e acidentado para a recuperação”, de acordo com o seu CEO, Peter Kern.
Nuvens carregadas pelo caminho
Ainda que o terceiro trimestre tenha sido melhor, o quarto trimestre pode não ser dos mais animadores tanto para a Airbnb, quanto para outras companhias do setor. Os EUA vêm enfrentando um aumento de casos de COVID-19, com cerca de 150.000 novas ocorrências diárias da doença, mais do que o dobro da taxa de um mês atrás.
Além disso, especialistas em doenças infecciosas estão aconselhando as pessoas a evitar grandes reuniões familiares durante o Dia de Ação de Graças e o Natal, dois dos feriados mais populares na América do Norte, quando há um grande descolamento de pessoas. Ao que tudo indica, apenas uma vacina contra a Covid-19 sendo distribuída de forma massificada normalizará o ritmo da economia.
A parte boa é que a Airbnb não está escondendo o risco. A empresa faz referência à Covid ou ao coronavírus 219 vezes em seu prospecto enviado a SEC e afirma que, devido ao pico mais recente, espera uma queda mais acentuada no volume de reservas no ano a ano no quarto trimestre do que no terceiro.
Para completar, o Airbnb não teve lucro anual desde seu lançamento em 2008. Ela também alertou que, provavelmente, também será o caso este ano, apesar dos lucros no terceiro trimestre. A companhia afirmou que espera uma queda nas reservas e um aumento nos cancelamentos no quarto trimestre.
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