A Agência Espacial Europeia (ESA) analisa dados de satélites para identificar o paradeiro e a condição do robô Schiaparelli, que deveria ter aterrissado em Marte na quarta-feira, mas teve problemas no momento do pouso.
Segundo os cientistas, o trajeto seguiu como esperado até o momento em que o módulo entrou na atmosfera marciana: o escudo térmico parece ter funcionado para a desaceleração, e o paraquedas abriu como esperado para continuar desacelerando a sonda.
Mas dados telemétricos que já foram recuperados pela ESA mostram que o paraquedas pode ter sido ejetado cedo demais. Além disso, os foguetes que deveriam manter o robô estável a poucos metros da superfície funcionaram por menos tempo que o previsto.
A Agência Espacial Europeia ainda não revelou se houve uma colisão, mas o clima entre os cientistas é de pessimismo.
“Neste momento não conseguimos identificar que lógica a máquina usou para ejetar o paraquedas. Mas certamente foi mais cedo em relação às nossas expectativas”, disse à BBC News Andrea Accomazzo, chefe das operações das missões planetárias da ESA.
Além de ter ejetado mais cedo do que o previsto no cronograma dos cientistas, os foguetes que deveriam ser acionados logo após a ejeção para manter o robô estável ficaram ligados por apenas três ou quatro segundos, enquanto a previsão era de um acionamento de 30 segundos.
Na sala de controle, muitos cientistas afirmam que esses dados podem sugerir que o robô teria sido destruído por causa da alta velocidade e sofrido uma queda livre a partir de cerca de um ou dois quilômetros da superfície de Marte.
Nos dados telemétricos, o Schiaparelli continuou transmitindo sinais de rádio por pelo menos 19 segundos depois do desligamento dos propulsores. A eventual perda de sinal ocorre 50 segundos antes do momento em que o robô deveria chegar à superfície.
Os especialistas ainda analisam dados e devem tentar novo contato com o Schiaparelli, na esperança de que ele tenha conseguido aterrissar com segurança e intacto na superfície de Marte.
Além disso, astrônomos americanos vão usar um dos satélites dos EUA para tentar conseguir uma imagem da área de pouso que possa mostrar algum equipamento, embora as chances sejam reduzidas, já que o módulo é bem pequeno.
Por enquanto, os cientistas da ESA estão analisando um grande volume de dados de engenharia enviados pelo robô à central de controle que foi lançada juntamente com ele, o satélite chamado Trace Gas Orbiter (TGO).
Oficialmente, os especialistas da Agência Espacial Europeia afirmam que só terão condições de interpretar o que pode ter acontecido com o robô após a reconstrução do perfil de velocidade do módulo durante todo o trajeto.
Depois disso feito, eles poderão cruzar os dados que já têm com as altitudes previstas, o que poderia identificar com certa precisão se o módulo realmente atingiu a superfície a uma velocidade catastrófica.
Dúvidas
O pouso em Marte é sempre desafiador. Ele deve ocorrer em alta velocidade, mas é necessária muita precisão para que a aeronave não colida com a superfície e seja destruída.
Caso o Schiaparelli seja dado como perdido, será um grande fracasso para a ESA, que já havia sofrido uma frustração com a falha do pouso do Beagle-2 em 2003. Nesse caso, os painéis solares não abriram corretamente, o que impediu que o módulo tivesse energia para enviar informações à Terra.
A missão do Schiaparelli tem sido muito comentada entre as autoridades porque seria uma espécie de “demonstração tecnológica” – ou seja, um projeto que daria à Europa a experiência e a confiança para levar adiante um pouso ainda mais ousado em Marte, em 2021, quando pretende levar ao planeta um veículo de rodas.
A previsão é que esse equipamento use uma tecnologia similar a do Schiaparelli, inclusive o radar de velocidade do tipo Doppler para identificar a distancia da superfície no pouso, assim como os mesmos algoritmos de navegação e controle.
Apesar dos planos, o orçamento para essa nova missão não está garantido. E se o Schiaparelli estiver de fato perdido, as autoridades da ESA podem encontrar ainda mais dificuldades para convencer os líderes europeus de que os novos investimentos realmente valerão a pena.
// BBC