China nega acusação de ciberataque feita pelos EUA e seus aliados

A China negou nesta terça-feira as acusações “infundadas”, segundo Pequim, de ter orquestrado um grande ciberataque contra a gigante de tecnologia Microsoft. Ao mesmo tempo, o governo chinês acusou Washington de ser o “campeão mundial” em ataques cibernéticos e criticou os aliados dos Estados Unidos por se unirem na incomum condenação conjunta a Pequim.

A resposta acontece depois que os Estados Unidos e seus aliados condenaram a China, nesta segunda-feira (19), por supostas “atividades cibernéticas maliciosas“. Esta não é a primeira vez que o regime chinês é acusado pela Casa Branca de proteger ou mesmo “patrocinar” tais ciberataques.

O secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que o ataque de março, que comprometeu dezenas de milhares de servidores de e-mail Microsoft Exchange em todo o mundo, é parte de um “padrão de comportamento irresponsável, perturbador e desestabilizador no ciberespaço” na China, “que representa uma grande ameaça para nossa segurança econômica e nacional”.

O Ministério de Segurança chinês (MSS) “promoveu uma rede de hackers criminosos, que realizam atividades patrocinadas pelo Estado e crimes cibernéticos para seu próprio ganho financeiro”, acrescentou.

É da turística ilha tropical de Hainan que os hackers chineses lançam seus ciberataques, afirma o Departamento de Estado dos Estados Unidos.

De acordo com o Departamento de Justiça americano, os quatro chineses indiciados administravam uma rede de hackers que atuava por meio de empresas de fachada, entre elas a Hainan Xiandun Technology Development, agora dissolvida, que teria trabalhado com o departamento de Segurança desta província chinesa, localizada no sudeste do país.

Unidade 61398

Os ataques começaram em janeiro e foram revelados em março pela Microsoft. Doze países foram visados, sofrendo, inclusive, roubo de segredos industriais (veículos autônomos, aeronáutica, sequenciamento genético) e informações comerciais que permitem conquistar mercados (projetos de infraestrutura, linha de trem de alta velocidade).

Desde 2013, quando foi descoberta a “Unidade 61398“, os Estados Unidos e seus aliados acusam regularmente o regime chinês de proteger e até patrocinar seus hackers.

Esta unidade de hackers chineses opera a partir de uma base do Exército de Libertação do Povo, em Xangai, que por muito tempo serviu como fachada. Depois, foi substituída por atores ainda mais discretos, abrigados por trás de empresas inexistentes e servidores virtuais privados (VPS), permitindo ataques cada vez mais sofisticados.

“Os Estados Unidos vão impor consequências aos cibercriminosos maliciosos da China por seu comportamento irresponsável no ciberespaço”, declarou Blinken.

O presidente Joe Biden afirmou que os Estados Unidos vão concluir uma investigação antes de tomar qualquer medida e traçou um paralelo com o crime cibernético que os países ocidentais atribuem à Rússia. “O governo chinês, como o governo russo, não está fazendo isso sozinho, mas protegendo aqueles que estão fazendo isso e, talvez, até permitindo que eles façam”, revelou Biden a repórteres na Casa Branca.

Em uma medida que o governo Biden qualificou de inédita, os Estados Unidos coordenaram sua reprovação com seus aliados: União Europeia, Reino Unido, Austrália, Canadá, Nova Zelândia, Japão e Otan. Uma autoridade americana disse que é a primeira vez que a Otan, a aliança militar fundada em 1949 para enfrentar a União Soviética, condena a atividade cibernética da China.

Contra-ataque

A embaixada da China em Wellington criticou especificamente a Nova Zelândia e chamou o ato de “calúnia mal-intencionada“. Paralelamente, a representação de Pequim na Austrália acusou Canberra de “repetir a retórica dos Estados Unidos”.

“É bem conhecido que os Estados Unidos realizaram escutas telefônicas inescrupulosas e indiscriminadas em muitos países, incluindo seus aliados”, afirmou a embaixada em um comunicado.

Revelada em 2014, a ofensiva chamada “Axiom” teria como alvo empresas como a Google, mas também Estados e ONGs. Em setembro de 2020, o grupo apelidado de APT41 tinha como alvo setores tão diversos como videogames, saúde, tecnologia e educação.

Vigilância cibernética em grande escala

Esta vigilância cibernética em grande escala está sendo desenvolvida nacionalmente pelo Ministério de Segurança do Estado chinês. Na China, muitos jornalistas, advogados, ativistas de direitos humanos não esperaram pelo software “Pegasus” para olhar mais atentamente para seus celulares.

Porém, no que diz respeito a países estrangeiros, as acusações de espionagem cibernética sempre foram negadas por Pequim.

“O governo chinês nunca se envolve em atividades de ciberataque ou roubo cibernético”, respondeu na segunda-feira a Embaixada da China nos Estados Unidos, acusando, como sempre, as “agências americanas”. De acordo com a diplomacia chinesa, elas estão “engajadas em intrusão cibernética e ciber atividades de vigilância, inclusive contra seus aliados. ”

É bom ver a amplitude da cooperação internacional“, analisa Frank Cilluffo, especialista em segurança cibernética da Auburn University. Mas “devemos garantir que haja consequências para induzir mudanças no comportamento do governo chinês”, afirmou.

Um alto funcionário dos EUA, sob condição de anonimato, disse que Washington e seus aliados não excluem “outras ações” para que a China cumpra suas responsabilidades.

// RFI

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