Cientistas criam primeiro híbrido de humano e porco

(dr) Salk Institute for Biological Studies

O pesquisador Juan Carlos Izpisua Belmonte

O pesquisador Juan Carlos Izpisua Belmonte

Uma equipe internacional de cientistas do do Salk Institute for Biological Studies, nos EUA, diz ter criado um ser híbrido meio humano meio porco, através de uma experiência cujos resultados foram divulgados esta quinta-feira (26).

Segundo Juan Carlos Izpisua Belmonte, o cientista valenciano que lidera a equipe de pesquisa, o objetivo da pesquisa é criar “tecidos funcionais ou órgãos que possam ser transplantados”.

Para realizar o inédito experimento, numa primeira fase a equipe de cientistas começou por introduzir células-tronco humanas em embriões de um porco em um estágio inicial de desenvolvimento, permitindo-lhes criar cerca de 2.000 híbridos que depois foram introduzidos no corpo de uma porca.

Estes 2.000 embriões permaneceram em gestação durante 28 dias, período que corresponde ao primeiro trimestre de gestação destes animais, após o que foi extraído o feto de 186 deles, terminando assim o processo.

Os resultados do experimento foram publicados esta quinta-feira na revista científica Cell.

Belmonte diz que este período de gestação basta para que os embriões se desenvolvam suficientemente de maneira a que os cientistas possam analisá-los sem “preocupações éticas”.

De acordo com o cientista, a possibilidade de um animal com células humanas nascer é algo que poderia causar problemas éticos fora do mundo científico. “A sociedade tem de decidir o que se deve fazer”, ressalta.

Entretanto, este experimento, o primeiro que permitiu cruzar células de duas espécies muito diferentes, poderá oferecer novas oportunidades à ciência para investigar doenças diferentes e como elas afetam o corpo humano.

Os cientistas esperam que estes experimentos abram caminho para pesquisar métodos de criação de órgãos para transplantes gerados a partir de células do próprio receptor. Assim, a rejeição dos tecidos seria evitada, resolvendo o problema da falta de doações de órgãos no mundo.

Mas este experimento é mais do que apenas uma revolucionária técnica de criação de órgãos para transplantes sem rejeição. É a primeira quimera viável conhecida.

Na mitologia tradicional, se dá o nome de quimera a qualquer animal que tenha partes do corpo de outro animal. Diversas equipas de cientistas em todo o mundo estão fazendo experimentos juntando partes de animais com partes humanas.

Mas esta é a primeira vez que é aceite pela comunidade científica, após validado em um sistema de revisão por pares, o resultado de um experimento de quimerismo em laboratório com animais de porte que suportem órgãos com as dimensões dos que existem no organismo humano.

E provavelmente, Juan Carlos Izpisua Belmonte ficará nos anais da ciência por ter criado a primeira quimera da história da humanidade – se ainda pudermos chamar-lhe isso.

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