Experimento com mosquitos transgênicos no Brasil deu muito errado

O plano era simples: usar Aedes aegypti machos alterados geneticamente para cruzar com fêmeas nativas, para que seus filhotes tivessem um gene que os fizesse morrer antes de chegar à idade adulta. Assim, esses filhotes nunca acasalariam, e a população de mosquitos da região diminuiria radicalmente, evitando a transmissão de doenças como Febre Amarela, Zika, Dengue e Chicungunha.

O experimento aconteceu entre 2013 e 2015, autorizado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, e os mosquitos foram geneticamente modificados pela empresa Oxitec.

Um estudo recente analisou este experimento de 2013, e foi conduzido por pesquisadores da Universidade de Yale (EUA), e Universidade de São Paulo, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Entomologia Molecular e da Moscamed Brasil.

Amostras de genes dos Aedes aegypti coletados em períodos de seis, 12, 27 e 30 meses após a soltura dos transgênicos mostraram que porções do genoma dos mosquitos alterados geneticamente foram incorporados pela população de insetos ao invés dessa população ser reduzida.

Pior de tudo, esses herdeiros parecer ser ainda mais robustos e fortes do que os mosquitos originais selvagens. Ainda não há estudos sobre as consequências das novas características dos mosquitos da região na transmissão de doenças ou na dificuldade de eliminá-los. Um acompanhamento precisa acontecer na região, alertam os pesquisadores.

“Os mosquitos comuns incorporaram genes de uma outra variedade, transgênica, resultando em insetos híbridos, que geralmente têm maior vigor, são mais potentes, sobre os quais ainda não há estudos”, diz o pesquisador José Maria Gusman Ferraz, do laboratório de engenharia Ecológica da Unicamp, à Rádio Brasil Atual.

Experimento

Entre junho de 2013 e setembro de 2015, aproximadamente 450 mil machos transgênicos OX513A foram soltos por semana por 27 meses em Jacobina, na Bahia. Segundo explicação deste estudo, a cidade foi escolhida por ser cercada por vários quilômetros de caatinga, um bioma seco em que o Aedes não consegue se procriar. Isso significa que Jacobina é uma ilha perfeita para testes deste tipo.

Nos primeiros meses após a introdução dos mosquitos alterados, a população geral caiu, mas logo em seguida voltou a ser alta.

Esses mosquitos foram criados pela empresa comercial Oxitec Ltd., a partir de uma cepa de Cuba cruzada com uma população mexicana. Como resultado, os Aedes de Jacobina atuais são resultado de uma mistura de três populações.

“Ainda não está claro como isso pode afetar a transmissão de doenças ou outros esforços para controlar vetores perigosos. Esses resultados destacam a importância de haver um programa de monitoramento genético durante esse tipo de soltura para detectar resultados não previstos”, alertam os pesquisadores no trabalho.

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