26 obras de arte deixarão a França a 9 de Novembro rumo ao Benim, de onde são originárias e onde foram apreendidas há mais de um século. Uma cerimónia teve lugar no museu parisiense de Quai Branly, confirmando a devolução dos tesouros reais de Abomey.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, receberá o seu homólogo Patrice Talon algumas horas antes das obras partirem a 9 de Novembro rumo ao Benim num avião de carga.
Entretanto estes tesouros reais de Abomey foram concentrados numa exposição do Museu Quai Branly, em Paris, visitada nesta quarta (27 de Outubro) pelo chefe de Estado da França, mas também pelos ministros da cultura e dos negócios estrangeiros do Benim, respectivamente, Jean-Michel Abimbola, e Aurélien Agbénonc.
Emmanuel Macron saudou um momento “particularmente emocionante” nesta “cerimónia de adeus” enquanto o chefe da diplomacia do Benim saudava esta “página das relações entre a França e o Benim” que agora se abre.
As obras em causa foram saqueadas do palácio de Abomey pelas tropas coloniais francesas em 1892.
Macron tinha-se comprometido em Novembro de 2017 numa universidade da capital do Burkina Faso a fazer o necessário para garantir em 5 anos a devolução do património africano em França ao continente negro.
Foi feito um inventário e um relatório alusivos, foi necessário, mesmo, alterar a lei em Dezembro passado por forma a abrir-se uma excepção ao carácter inalienável das obras nas colecções públicas.
No Benim as obras irão ficar armazenadas numa primeira fase, depois serão apresentadas noutros locais de forma perene: no antigo forte português de Ouidah e a casa do governador, locais históricos da escravatura e da colonização europeias, junto à costa, enquanto se aguarda pela construção de um novo museu em Abomey.
E isto segundo afirmou Emmanuel Kasarhérou, director do museu parisiense de Quai Branly.
Segundo a agência AFP, citando peritos, entre 85 a 90% do património africano estaria fora do continente. Desde 2019, para além do Benim, seis outros países: Senegal, Costa do Marfim, Etiópia, Chade, Mali e Madagáscar formularam pedidos de devolução.
Pelo menos 90.000 objectos de arte da África ao sul do Sahara constam de colecções públicas francesas, das quais 70.000 estariam no Museu Quai Branly, incluindo 46.000 que chegaram durante o período colonial.
As obras devem viajar dentro de dias e serão recolhidas, numa primeira fase, pelo Museu de Ouidah, no Benim. O respectivo conservador Calixte Biah, em entrevista a Sébastien Jedor fala em “momento histórico”.
“Tratam-se de obras excepcionais, de elevado requinte, produtos terminados de elevado valor, peças que nos foram retiradas há mais de 100 anos”.
“E quando se tem a sorte de receber as ditas obras é um acontecimento histórico. É um sentimento de orgulho, não só para os cidadãos do Benim, e também me parece, de forma mais alargada, para todos os africanos. ”
// RFI