Jacques Chirac, ex-presidente francês, morre aos 86 anos

Marcello Casal Jr / Wikimedia

O ex-presidente do Brasil Lula da Silva, o ex-presidente de França, Jacques Chirac, e o ex-presidente dos EUA, Bill Clinton

O ex-presidente francês Jacques Chirac morreu na manhã desta quinta-feira (26), aos 86 anos, informou a família do chefe de Estado. Imediatamente após o anúncio, a Assembleia Nacional francesa realizou um minuto de silêncio em homenagem a Chirac que dirigiu a França de 1995 a 2007.

Desde que sofreu um derrame, em setembro de 2005, quando ainda era presidente da França, os problemas de saúde de Jacques Chirac se sucederam. Após deixar o Palácio do Eliseu, em maio de 2007, ele foi hospitalizado várias vezes.

Em janeiro de 2014, sua mulher, Bernadette Chirac, estimou que o marido, que sofria de “problemas de memória”, não falaria mais em público. No final de 2015, o ex-presidente passou duas semanas internado para tratar de um quadro geral de fraqueza e, em setembro de 2016, voltou a ser hospitalizado para tratamento de uma infecção pulmonar.

A morte de sua filha mais velha, Laurence, em abril de 2016, teria contribuído para o debilitar ainda mais. A última vez que Chirac apareceu oficialmente em público foi em novembro de 2014, em um evento da fundação Chirac ao Serviço da Paz, que ele fundou em 2008. Enfraquecido, apoiado por um segurança, ele foi muito aplaudido quando chegou à cerimônia.

Desde junho de 2016, quando o ex-chefe de Estado não compareceu à inauguração da exposição em sua homenagem no museu do Quai Branly, os rumores sobre a piora de seu estado de saúde e morte eram frequentes.

Uma vida dedicada à política

Jacques Chirac nasceu em Paris, em novembro de 1932. Ele cresceu na Corrèze, na região centro-oeste, mas se formou em Paris no prestigioso Instituto de Estudos Políticos e na Escola Nacional de Administração. Sua carreira política começou como vereador de Sainte-Féréole en Corrèze, em 1965, mas logo ele ocupou vários cargos importantes em ministérios, foi eleito deputado, até ser nomeado primeiro-ministro de Valéry Giscard d’Estaing, em 1974.

Em março de 1977, Chirac é eleito prefeito de Paris, cargo que conservou até sua primeira eleição presidencial em 1995, substituindo o socialista François Mitterrand. Em 2002, ele foi reeleito para um segundo mandato, após uma eleição que marcou a história recente francesa. Para surpresa geral, o então presidente do partido da extrema direita Frente Nacional, Jean-Marie Le Pen, chegou ao segundo turno e Chirac obteve 82,21% dos votos.

Depois de François Mitterrand, que ficou 14 anos no poder, ele vem em segundo como o chefe de Estado a ocupar por mais tempo o cargo, com 12 anos na função.

A popularidade do ex-presidente aumentou muito depois que ele deixou o Palácio do Eliseu.

Herança chiraquiana

Internacionalmente, Jacques Chirac entrou para a história como o presidente que ousou resistir aos Estados Unidos e não entrar na guerra no Iraque em 2003. Ele também foi o primeiro presidente da República a reconhecer a responsabilidade do Estado francês na deportação dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

A França da era Chirac foi um dos primeiros países desenvolvidos a apoiar a candidatura do Brasil a uma cadeira do Conselho de Segurança da ONU. Esse apoio, aliás, foi ressaltado durante sua visita à Brasília, em maio de 2006, quando foi recebido pelo então presidente Lula. Foi também durante seu último mandato que foi realizado, em 2005, o bem sucedido “Ano do Brasil na França”, que comemorou os laços históricos entre os dois países.

Em relação a Europa, a política de Chirac é mais contrastada. Sua indefinição é apontada como responsável pelo “não” francês ao referendo de 2005 sobre a Constituição europeia. Mas o ex-presidente também defendeu a entrada de outros países, principalmente do leste europeu, no bloco.

Ele também tem uma mancha em seu histórico político. Chirac foi o primeiro chefe de Estado francês a ter sido condenado pela Justiça. Em 2011, depois que tinha perdido sua imunidade como presidente, ele foi condenado a dois anos de prisão, com direito a sursis, por empregos-fantasmas quando era prefeito de Paris, entre 1977 e 1995. Já sofrendo da doença degenerativa, ele obteve autorização para não comparecer ao tribunal.

// RFI

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