O presidente e fundador do Facebook assumiu, nesta terça-feira (10), a culpa perante o Senado norte-americano pelo abuso da Cambridge Analytica, que utilizou dados de milhões de internautas na campanha eleitoral de Donald Trump.
Mark Zuckerberg afirmou que a Cambridge Analytica não mediu adequadamente “a responsabilidade” de fornecer dados de forma ilegal para a campanha eleitoral do presidente dos EUA, em 2016. “Isso foi um grande erro”, declarou.
“Foi um erro meu e peço desculpa. Não tivemos a visão completa da nossa responsabilidade com o que aconteceu na época. Eu comecei o Facebook e essa é a minha responsabilidade”, disse o presidente e fundador da empresa, na audição do comitê de Justiça do Senado norte-americano.
O CEO da rede social fez ainda questão de destacar que decorre “uma investigação a todo e qualquer aplicativo que teve acesso aos dados de utilizadores do Facebook” e que o mesmo será banido caso se prove a invasão de privacidade.
Zuckerberg participou nesta terça-feira da primeira de duas audições. A primeira é no Senado e, nesta quarta, é ouvido na comissão de Comércio e de Energia da Câmara dos Representantes (câmara baixa do Congresso).
O Facebook está no centro de uma polêmica internacional associada à empresa Cambridge Analytica, acusada de ter recuperado dados de milhões de utilizadores da rede social, sem consentimento, para elaborar um programa informático destinado a influenciar o voto dos eleitores nas eleições que ditaram a nomeação de Donald Trump para a Casa Branca e no referendo sobre o Brexit.
Inicialmente, foi divulgado que o número de utilizadores afetado rondava os 50 milhões. Dias mais tarde, o Facebook admitiu que o número chegava aos 87 milhões.
Na véspera do início das audições, as agências internacionais citaram um texto no qual Zuckerberg assume que foi um “erro pessoal” ao não ter feito o suficiente para combater os abusos que afetaram a rede social, lançada em 2004.
“Não fizemos o suficiente para impedir que essas ferramentas fossem mal utilizadas (…). Não tomamos uma medida suficientemente grande perante nossas responsabilidades e foi um grande erro. Foi um erro meu e peço desculpa”, segundo o texto citado pelas agências internacionais.
Na sequência do escândalo, outros órgãos nacionais e internacionais solicitaram a presença de Zuckerberg para prestar esclarecimentos. Foi o caso do Parlamento Europeu e do Parlamento do Reino Unido. Nos dois casos, o convite foi, até agora, recusado.
Na sexta-feira (6), a Comissão Europeia afirmou ter tido indicações do Facebook que dados de “até 2,7 milhões” de utilizadores da rede social na União Europeia poderiam ter sido transmitidos de “maneira inapropriada” à Cambridge Analytica.
Zuckerberg admitiu poder ver sua atividade no Facebook ser regulada, de uma forma próxima ao que irá acontecer na UE, a partir de 25 de maio, com a aplicação de multas a empresas que utilizem de forma indevida dados pessoais.
O presidente executivo do Facebook disse que apresentará propostas regulatórias ao Senado e que sua equipa trabalhará estreitamente com o senador republicano Lindsey Graham, que preside o painel que ouviu Zuckerberg, de modo a promover o diálogo sobre “diferentes categorias em que o debate deve se inserir”.
Já sobre a forma de obtenção de receitas, Zuckerberg defende que “sempre haverá uma versão gratuita do Facebook”. A declaração já incendiou as redes sociais, com os internautas a admitirem que uma versão paga pode chegar em breve.
Os acionistas e analistas de mercados parecem ter gostado da performance de Zuckerberg. Nesta terça, as ações do Facebook tiveram o maior ganho diário: a rede social valorizou 4,5% e atingiu os 165,04 bilhões de dólares, o nível mais alto em mais de três semanas. A subida foi a mais acentuada desde 28 de abril de 2016.
Ciberia, Lusa // ZAP