Marte irá inverter em breve sua trajetória nos céus (e brilhar intensamente)

Kevin M. Gill / Flickr

O Planeta Vermelho

O brilhante Planeta Vermelho começou um desvio em zigue-zague pelos céus durante no fim de semana. Em apenas cinco semanas, Marte fará a maior aproximação da Terra desde de agosto de 2003.

Durante esta semana, será possível ver Marte, um pouco antes da meia noite, no céu a leste-sudeste, quase alinhado com Júpiter, brilhando intensamente como se fosse uma brasa laranja-amarelada. Marte vai continuar brilhando cada vez mais a cada semana.

Na época de Ano-Novo, Marte brilhava na constelação zodiacal de Libra. Por essa altura, estava a 292 milhões de quilômetros da Terra. Agora, e até o final da próxima semana, a distância de Marte à Terra teria diminuído para 68,2 milhões de quilômetros. O Planeta Vermelho brilha agora 25 vezes mais que no início do ano.

No entanto, em 28 de junho, a estável trajetória de Marte para o leste vai parar. Desde o inicio do mês, o planeta parece ter desacelerado sua trajetória, quase sem hesitar, como se a trajetória estivesse se tornando incerta.

Depois, nos próximos dois meses, Marte irá inverter a trajetória nos céus, parecendo se mover para trás, contra o fundo da estrela em direção a oeste. No dia 28 de agosto, o planeta fará uma breve pausa antes de retomar seu movimento normal para leste.

Os gregos ficaram perplexos, Copérnico não

Todos os planetas do Sistema Solar mostra esse “movimento retrógrado” ocasionalmente. Mas, durante muito tempo, os astrônomos antigos foram incapazes de encontrar uma explicação para o fenômeno.

Embora Marte tenha esse comportamento estranho, o planeta também parece estar se desviando significativamente da sua trajetória normal. O “movimento retrógrado” parece estar trazendo-o muito abaixo da faixa orbital regular.

Para quem observa Marte a partir da Terra, o planeta parece viajar em um circuito amplo durante os próximos 2 meses, medindo cerca de 2 graus de comprimento e 2,5 de largura.

Os gregos – que acreditavam convictamente que o Sol, a Lua e os planetas giravam em torno da Terra em círculos perfeitos – sentiram grandes dificuldades em representar e calcular essa misterioso “volta”, não tendo, durante muitos anos, uma explicação adequada para o acontecimento.

Explicar o motivo de Marte, às vezes, fazer um movimento em volta e, em outras vezes, em zigue-zague, foi também um problema. Mas foi exatamente o que o planeta fez na primavera de 2016 e voltará a fazer no final do outono de 2022.

Finalmente, os gregos conseguiram explicar estas anomalias, assumindo que os planetas se moviam ao redor da Terra em “epiciclos” menores – ou seja, se moviam em pequenos círculos cujos centros se movem ao longo de seus principais círculos orbitais em volta da Terra, resultando em curvas complexas.

A explicação acabou por se mostrar completamente inútil, uma vez que os resultados reais dos planetas nunca se encaixaram nesse estranho mecanismo orbital.

Até 1543, quando o astrônomo polonês Nicolau Copérnico (1473-1543) publicou o trabalho de uma vida, De revolutionibus, no qual finalmente revelou o segredo das estranhas voltas retrógradas.

Ao rebaixar a Terra da sua posição sagrada no centro do Sistema Solar, substituindo-a pelo Sol, Copérnico foi capaz de explicar de forma triunfante o enigma do aparente “efeito de movimento retrógrado” dos planetas.

Afinal, é tudo uma ilusão

Na verdade, o efeito dos planetas é exatamente o mesmo que ocorre quando um carro ultrapassa outro na estrada: há dois automóveis que se movem na mesma direção, mas um vai mais devagar. À medida que é ultrapassado, o carro mais lento parece se mover para trás relativamente ao carro mais rápido.

Copérnico aplicou o mesmo efeito aos planetas no espaço. Nesta situação, tanto a Terra quanto Marte estão se movendo na mesma direção em torno do Sol, mas o mais lento – Marte – parece se mover para trás em comparação com o mais veloz, a Terra.

É importante destacar que Marte não se encontra parado nem revertendo seu caminho orbital no espaço. O que acontece é apenas uma ilusão baseada na perspectiva. Marte continuará se movendo na sua órbita elíptica regular em volta do Sol.

O que observamos – a parada, a reversão de trajetória e o regresso ao caminho regular – é apenas resultado de vermos Marte a partir da nossa perspectiva na Terra, à medida que cada planeta viaja pelo espaço em caminhos orbitais separados e com diferentes velocidades ao redor do Sol. Assim como acontece quando vemos o carro mais lento do ponto de vista do carro mais rápido.

Depois de 28 de agosto, os movimentos retrógrados de Terra e Marte vão parar. Tendo passado mais de metade do ano “em fuga” e, finalmente, tendo conseguido alcançar Marte, a Terra deixará eventualmente o planeta para trás.

O brilho de Marte, que observamos agora, será também revertido. Desaparecendo consequentemente, e de forma igualmente rápida, ao longo da última metade do ano.

Ciberia // ZAP

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