O exoplaneta Ross 128b tem características viáveis para abrigar vida. Uma equipe coordenada por cientistas do Observatório Nacional do Brasil analisou as características físico-químicas do sistema extrassolar Ross 128, e constatou que o sistema guarda muitas semelhanças com o Sol e a Terra.
O grupo realizou um estudo detalhado das propriedades da estrela visando compreender melhor o exoplaneta Ross 128b, descoberto em 2017 por cientistas liderados pelo Instituto de Planetologia e Astrofísica de Grenoble, na França. O estudo foi publicado na sexta-feira (13) nas Astrophysical Letters.
Ross 128b tem massa equivalente à do nosso planeta, localizado na zona habitável da sua estrela e tem uma temperatura média na superfície da ordem de 21ºC. Além disso, está muito próximo da Terra, a 10 anos-luz, ou seja, cerca de 94 trilhões de quilômetros.
“Desenvolvemos um estudo detalhado das propriedades físico-químicas da estrela Ross 128 com o intuito de medir propriedades sobre o exoplaneta Ross 128b e, assim, conhecê-lo melhor”, explica o cientista Diogo Souto, autor principal do estudo.
“Para isso, usamos modelos de formação planetária e verificamos que o exoplaneta deve ser composto por minerais similares aos da Terra, no entanto, com um núcleo um pouco maior”, acrescenta o astrônomo.
O exoplaneta Ross 128b tem uma massa mínima 30% superior à massa terrestre, enquanto seu raio é 10% maior que o da Terra. A razão entre a massa e o raio desse exoplaneta o coloca no grupo de planetas rochosos, assim como a Terra.
Entre as características que assemelham Ross 128b à Terra, o grupo concluiu que a radiação que o exoplaneta recebe de sua estrela hospedeira é similar à que a Terra recebe do Sol. A estrela Ross 128 tem uma temperatura de 2.958ºC, quase metade do nosso Sol, e um raio de 145.400km, o que corresponde a cerca de um quinto do raio do Sol.
Ross 128b está a uma distância de 6 milhões de quilômetros da sua estrela, enquanto a Terra está a 150 milhões de quilômetros do Sol, aproximadamente.
“Nunca foi feito um estudo tão detalhado de uma estrela fria como Ross 128. É difícil estudar estrelas frias porque o espectro ótico desses objetos apresenta fortes bandas moleculares que atrapalham a análise”, explica Katia Cunha, pesquisadora da Coordenação de Astronomia e Astrofísica do Observatório Nacional do Brasil.
“Usando a espectroscopia no infravermelho, essas bandas são mais fracas e é possível estudar as moléculas atômicas para extrair informações que ajudem a caracterizar a estrela”, acrescenta.
“A pesquisa traz como novidade a técnica desenvolvida para o estudo químico detalhado desse tipo de estrela, que povoa o Universo e concentra exoplanetas que podem ser objetos de pesquisas futuras”, comemora Diogo Souto.
O estudo utiliza dados do projeto Sloan Digital Sky Survey (SDSS), do qual o Observatório Nacional do Brasil faz parte.
A estrela Ross 128 é uma estrela de baixa temperatura, classificada como estrela anã M – tipo que corresponde entre 65 e 75% das estrelas da nossa galáxia, por isso é tão importante saber mais sobre elas.
Um dos diferenciais entre as estrelas é a abundância de elementos químicos. A composição química da estrela Ross 128 é, de certa forma, parecida com a do Sol. “Nesse estudo, conseguimos estudar a assinatura de oito elementos: carbono, oxigênio, magnésio, alumínio, potássio, cálcio, titânio e ferro”, explica Diogo Souto.
“As proporções entre alguns desses elementos como Fe/Mg, Ca/Mg e Al/Mg são parecidas com o que observamos no Sol e na Terra, e, segundo a nossa análise, também são similares ao exoplaneta Ross 128b. Com isso, temos indícios de que a formação e a composição de Ross 128b sejam parecidas com a da Terra”, acrescenta o cientista.
“Verificamos também que não há indícios de um campo magnético forte em Ross 128, o que, se confirmado, poderia reduzir as probabilidade de habitabilidade“, explica o astrônomo.