Em uma audiência da Câmara dos Deputados, o ministro da Educação Milton Ribeiro defendeu o homeschooling (ensino à distância) e afirmou que a socialização de crianças em idade escolar pode ser feita na igreja.
O pastor evangélico que comanda uma das mais importantes pastas do governo federal cumpre as ordens do presidente da República em uma pauta incompatível com a realidade brasileira: a desescolarização.
A pauta, considerada prioritária pelo governo Bolsonaro, foi defendida com unhas e dentes pelos ministros Milton Ribeiro e Damares Alves (Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos). Milton argumentou que estudantes em sistema de homeschooling em outros países do mundo têm resultados melhores do que a média.
Questionado sobre a perda na socialização das crianças, Milton Ribeiro afirmou que os responsáveis para esse processo seriam “a própria família, clubes, bibliotecas e até mesmo a igreja, por que não?”.
Homeschooling: precarização e guerra ideológica
O debate sobre homeschooling pode ser observado por diversos prismas. Se por um lado, existe uma minoria de brasileiros que adotam a educação em casa – cerca de 11 mil pessoas -, parece que a prioridade do governo não está realmente focada nessas famílias.
Vale lembrar que a campanha presidencial de Jair Bolsonaro foi calçada na ideia de que as escolas brasileiras e o suposto ‘método Paulo Freire’ adotado por elas estaria ensinando crianças a serem marxistas ou LGBT.
A teoria da conspiração teria como principal solução que famílias conservadoras e religiosas conseguissem retirar seus filhos desses espaços e fazer a educação em casa. O presidente da Associação Nacional da Educação Domiciliar, Ricardo Dias, afirma que o ensino seria uma alternativa contra a “doutrinação ideológica”.
O homeschooling no Brasil também abriria dois precedentes: o primeiro é a redução de investimento na educação pública, com o incentivo à adoção do método de ensino em casa. O segundo é a expansão da desigualdade social nesse processo: famílias ricas teriam capacidade de contar com melhores materiais e tutores para a educação de seus filhos e famílias pobres teriam de contar com pouca infraestrutura e tempo dos pais para auxiliar no processo.
Especialistas em educação afirmam que o debate não existe no Brasil. “Não há levantamento oficial que comprove uma alta demanda da população brasileira que justifique esse tema como prioridade governamental. Em um país com mais de 200 milhões de habitantes, e aproximadamente 2,5 milhões de crianças e jovens de 4 a 17 anos fora da escola, é preciso foco para resolver os reais desafios do setor”, afirma Priscila Cruz, fundadora da Todos pela Educação, à Cláudia.
“A triste realidade é que o homeschooling e o Escola sem Partido colocaram as escolas no centro da guerra cultural bolsonarista, que serve fundamentalmente para amelhear militantes e apoiadores para a ultradireita – a partir da mentira astuta contra as escolas e a pedagogia”, salienta o professor e coordenador da Campanha Nacional Pelo Direito À Educação, Daniel Cara, à Carta.
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