O ativista sul-africano Jay Naidoo, responsável por uma organização multinacional que combate a desnutrição, defende que a aposta na agricultura e na capacitação das mulheres permitirá acabar com a fome e a pobreza na África.
A África detém 60% da área cultivável livre no mundo, mas 242 milhões de africanos “vão dormir com fome hoje“, disse, em entrevista à Lusa, o antigo político sul-africano, durante o “Fim de Semana da Governação Ibrahim”, que terminou esta noite em Marrakesh, Marrocos.
Jay Naidoo, antigo ministro das Comunicações do executivo de Nelson Mandela, é presidente da Aliança Global para uma Nutrição Melhorada – GAIN, membro da direção da Fundação Mo Ibrahim e consultor de vários organismos internacionais, incluindo a Unesco e o comitê do secretário-geral das Nações Unidas para a nutrição.
“Temos a capacidade de nos alimentar e de alimentar o mundo”, referiu, comentando que 90% da produção agrícola na África é de responsabilidade das mulheres, mas também são elas as mais afetadas pela fome, porque em muitos casos não têm direito a deter a terra ou a contrair empréstimos.
“É preciso capacitar as mulheres. Sabemos que resolveremos a fome na África. Sabemos que as mulheres, quando têm dinheiro, investem na educação e na saúde dos filhos”, diz o ativista.
“Sabemos que investir nas mulheres e na agricultura cria milhões de empregos para o nosso povo na África e resolve a pobreza, além de melhorar a qualidade de vida das pessoas”, afirmou Naidoo.
Para Naidoo, um dos principais problemas é a África “continuar agindo como 54 países e não como um continente”.
“Temos a riqueza do mundo, mas não a exploramos para beneficiar o povo africano. Somos muito ricos abaixo do solo, mas o nosso povo é pobre“, disse, acrescentando que “o tema do governo tem a ver com construir uma agenda africana, que coloque o povo africano no centro”.
“Não precisamos de Messias que venham do norte, não precisamos de celebridades que pensam que vêm e conseguem resolver os problemas e salvar os pobres africanos de si próprios. Temos de olhar para nós próprios. Temos a capacidade intelectual, a riqueza mineral, temos o povo. Temos tudo para gerar uma genuína solução africana”, sustentou.
“Na nossa vida louca para atingir o sucesso, entramos em uma trajetória de consumo, a custo de tudo o que é sagrado neste mundo, incluindo o ambiente. Temos de mudar e fazer o que está correto”, refere.
Para Naidoo, o mundo atravessa “uma transformação” e, nestes tempos voláteis, é preciso “agir com o coração para tomar as decisões corretas“.
Realidades como a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, o crescimento do populismo de direita no mundo ou a subida da “presidência divina, em que os presidentes acreditam que são um presente de Deus para as pessoas” são, na opinião do responsável, “uma aberração que o mundo vai ultrapassar“.
“O fato de termos estas pessoas, que representam dos piores aspectos dos seres humanos, nos une. Une os jovens, pessoas do norte, do sul, do leste e do ocidente, que procuram um caminho diferente”, conclui Jay Naidoo.
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