Presidente receberia prêmio de “Pessoa do Ano” da Câmara de Comércio Brasil-EUA em jantar de gala no Museu de História Natural da cidade americana. Instituição alega que alugou espaço sem saber quem seria o homenageado.
O Museu de História Natural de Nova York (AMNH) anunciou nesta segunda-feira que não vai aceitar sediar uma cerimônia em homenagem ao presidente Jair Bolsonaro.
Inicialmente, a sede da instituição havia sido alugada para abrigar no dia 14 de maio um jantar de gala da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, no qual o presidente brasileiro deveria ser premiado como “Pessoa do Ano”.
Mas, ao longo da semana passada, o museu passou a considerar revogar a permissão do uso do espaço após pressão de funcionários da instituição, ativistas e membros do establishment político americano. Nesta segunda, o museu tomou uma decisão final.
“Com respeito mútuo pelo trabalho e pelos objetivos da nossa organização individual, decidimos conjuntamente que o museu não é a locação ideal para o jantar de gala da Câmara de Comércio Brasil-EUA. Este tradicional evento será direcionado para outra locação na data e horários originais”, anunciou o museu nesta segunda-feira.
Desde 1970, a Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos escolhe todos os anos duas personalidades para homenagear, uma americana e outra brasileira. A cerimônia de premiação ocorre durante um jantar de gala com a presença de cerca de mil convidados, com entradas a preço individual de 30 mil dólares.
Em comunicado divulgado em fevereiro, quando a homenagem foi anunciada, a Câmara disse que a escolha de Bolsonaro foi um “reconhecimento de sua intenção fortemente declarada de fomentar laços comerciais e diplomáticos mais próximos entre Brasil e EUA e seu firme comprometimento em construir uma parceria forte e duradoura entre as duas nações.”
Mas a revelação do homenageado também levou o museu a começar a hesitar em sediar o evento. A instituição chegou a anunciar na semana passada que o jantar havia sido agendado “antes que o homenageado fosse conhecido”. Quando Bolsonaro ficou sabendo da homenagem, ele comemorou nas redes sociais, afirmando que se sentia honrado por receber o prêmio.
Mas na internet a homenagem foi alvo de críticas, que aumentaram a pressão sobre o museu. O portal Gothamist citou um ambientalista que ressaltou ser “uma ironia particularmente amarga que um homem que tenta destruir um dos recursos naturais mais preciosos seja nomeado Pessoa do Ano dentro de um espaço dedicado à celebração do mundo natural”.
Segundo o portal de notícias The Atlantic, funcionários dos departamentos científicos, educacionais e da biblioteca e educacionais do museu também preparam “várias iniciativas” para “pressionar o museu a desistir do evento“.
Em uma carta aberta à presidente do museu, Ellen Futter, estudantes, doutorandos, funcionários e pesquisadores da instituição também pediram o cancelamento da homenagem a Bolsonaro, que chamam de “presidente fascista do Brasil“, afirmando que a noite seria “uma mancha na reputação do museu”.
O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, que é do Partido Democrata, também engrossou o coro dos que não querem ver Bolsonaro sendo homenageado dentro do AMNH. Ele chamou o presidente brasileiro de “um ser humano muito perigoso“, em entrevista à rádio WNYC na sexta-feira.
“Ele é perigoso não apenas por causa de seu racismo evidente e homofobia, mas porque ele é, infelizmente, a pessoa com maior capacidade de impactar no que acontece na Amazônia daqui para frente”, disse o prefeito.
Em resposta, o assessor de Bolsonaro para assuntos internacionais, Filipe Martins, chamou De Blasio de “toupeira” e de “comunista“. “Surpresa seria uma toupeira dessas o elogiar”, escreveu Filipe Martins no Twitter. “Não há surpresa alguma em ver Bill de Blasio – um sujeito que colaborou com a revolução sandinista, que considera a URSS um exemplo a ser seguido e que faz comícios no monumento dedicado a Gramsci no Bronx – criticando o PR Bolsonaro.”
O nome do americano homenageado este ano ainda não foi divulgado. Ano passado, os ganhadores da honraria foram o ex-juiz e atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg.