Foi há mais de 80 anos que a pioneira da aviação desapareceu sobre o Oceano Pacífico, enquanto tentavam circunavegar o globo em um Lockheed Electra.
As teorias sobre o desaparecimento de Amelia Earhart e Fred Noonan, que também estava presente no avião, recaem, principalmente, sobre duas situações: o avião teria caído no oceano e os dois morreram afogados, ou o avião teria caído em Nikumaroro, uma ilha remota, onde morreram de fome.
Agora, um antropologista forense americano tem novas provas que aumentam a probabilidade de os dois terem sofrido o segundo destino, avança o The Economist.
Nikumaroro, uma das Ilhas Phoenix, é um local inóspito e era inabitável na época do desaparecimento de Amelia, em 1937. Três anos depois, uma equipe de investigação encontrou uma caveira humana e um esqueleto parcial.
Estava por perto também um sapato, que os investigadores acreditam pertencer a uma mulher, e uma caixa fabricada em 1918, desenhada para guardar um sextante, um instrumento elaborado para medir a distância angular na vertical entre um astro e a linha do horizonte para fins de cálculo da posição e corrigir eventuais erros de navegação.
Os ossos foram recolhidos e entregues a uma escola médica em Fiji, onde David Hoodless, médico e professor de anatomia, os mediu e concluiu que pertenceram a um homem de meia-idade.
Mais tarde, os ossos desapareceram pelo que o mistério se baseia nas medições de Hoodless e na antropologia forense de 1941.
Sem os ossos, é difícil avaliar a credibilidade das medidas. Mas o antigo diretor do Centro de Antropologia Forense da Universidade do Tennessee, Richard Jantz, evidenciou em um artigo como a disciplina era ainda primitiva na época.
Hoodless usou fórmulas desenvolvidas por um estatístico do século XIX, Karl Pearson, para calcular a estatura a partir do comprimento do osso e concluiu que o náufrago tinha cerca de 1,66 metro de altura.
As fórmulas de Pearson são, porém, amplamente reconhecidas por subestimar a altura. Hoodless também usou três indicadores de sexo: a proporção da circunferência do fêmur para o comprimento, o ângulo entre o fêmur e a pélvis, e o ângulo subpúbico, entre dois ossos da pélvis, que é maior nas mulheres do que nos homens.
Desses três indicadores, apenas o ângulo subpúbico ainda é considerado válido, e nas suas notas, Hoodless não divulgou o peso relativo que deu a cada um. Ainda hoje, diz o Dr. Jantz, não é possível “acertar” sempre. Hoodless observou que os ossos eram “batidos pelo tempo”, o dano que o Dr. Jantz pensa ser mais provável de ter sido causado por caranguejos destruidores e que também pode descartar as medidas de Hoodless.
Se Hoodless estivesse certo, os restos não poderiam pertencer a Earhart, cuja licença de condução registrava uma altura de 1,70 metro.
O Dr. Jantz também descreve algumas novas pesquisas sobre o assunto. Os americanos dessa época eram diferiram morfologicamente dos homólogos modernos. Por isso, o cientista comparou as medidas de Hoodless com as dos esqueletos de 2.700 americanos brancos que morreram entre os séculos XIX e XX. Jantz incluiu as medidas dos ossos de Earhart calculados a partir de fotografias e conclui que os ossos mais pareciam os do náufrago do que 99% da amostra de referência.
A descoberta pode ser suficiente para convencer aqueles que até agora apoiaram a conclusão de Hoodless. Mas é improvável que silencie os teóricos da conspiração que continuam pensando no desaparecimento de Earhart.
A verdade pode nunca ser totalmente descoberta. Mas mesmo se aqueles que afirmam que ela se afogou consigam explicar a semelhança que o Dr. Jantz descobriu, outro mistério aguarda agora uma resposta: se o náufrago não era Earhart, então quem era?
Ciberia // ZAP