“O Iraque estará sempre comigo”, diz papa ao fim de visita histórica ao Oriente Médio

Ahmed Jalil / EPA

Papa Francisco no Iraque

O Papa Francisco concluiu sua histórica visita ao Iraque neste domingo (7) com uma missa diante de milhares de fiéis no norte do país devastado pelos jihadistas, conclamando os cristãos que ainda estão no país “a não desanimar”. Depois de orar pelas “vítimas da guerra” nos escombros de Mossul, cidade proclamada ex-“capital” do grupo Estado Islâmico (EI), o Soberano Pontífice celebrou a missa mais importante de sua viagem sob alta segurança na igreja recém-restaurada de uma cidade-mártir na Planície de Nínive, um dos berços da Humanidade.

Com uma chegada triunfante de papamóvel ao gramado do estádio de Erbil, capital do Curdistão iraquiano, o Papa argentino prometeu aos fiéis de uma das comunidades cristãs mais antigas do mundo: “O Iraque ficará para sempre comigo”.

Para Bayda Saffo, uma católica de 54 anos que fugiu dos jihadistas em Mossul, “sabemos que alguém está pensando em nós e em como nos sentimos”. Isso “encorajará os cristãos a permanecerem em suas terras”, garante ela após a primeira visita papal ao Iraque, país onde o número de cristãos caiu em 20 anos de 6% para 1% da população.

Depois de viajar de avião, helicóptero ou carro blindado por um país que emergiu há três anos de um conflito sangrento contra os jihadistas, o Papa conseguiu passar seu dia neste domingo (7) o mais próximo possível dos cristãos do Iraque.

Vigilância reforçada

Desde sua chegada na sexta-feira, os guarda-costas e as forças de segurança estiveram mais do que vigilantes. Eles acompanharam o papa novamente nesta missa no estádio Franso Hariri – que leva o nome de um político cristão assassinado há 20 anos – logo depois de um ataque com foguete no final de fevereiro, no aeroporto de Erbil.

Mas, neste domingo, Francisco conseguiu abraçar a multidão, primeiro em Mossul, onde lamentou o exílio dos cristãos orientais em uma plataforma construída no meio das ruínas, por falta de uma igreja ainda de pé.

Lá, o papa de 84 anos, que tem dificuldade para andar devido a problemas no nervo ciático, deu um passeio de carrinho de golfe em meio aos gritos e aplausos de uma pequena multidão.

“Dia mais lindo”

É o melhor dos dias!”, exclamou Hala Raad, ao vê-lo passar. “Agora esperamos viver em segurança, isso é o mais importante”, continua este cristão, que fugiu de Mossul durante o avanço jihadista e só retorna para lá para breves visitas.

Em Qaraqosh, uma localidade cristã martirizada a meio caminho entre Mossul e Erbil, o soberano pontífice convocou uma multidão em movimento para “reconstruir” e “não desanimar”.

Se o papa viaja sob alta proteção em um país onde células jihadistas clandestinas ainda estão escondidas, ele também deve lidar com a Covid-19 em sua primeira viagem em 15 meses. O Iraque está em lockdown total depois que as contaminações diárias atingiram um recorde: mais de 5.000 casos.

Como resultado, o número de fiéis no estádio foi reduzido várias vezes, porque se o Papa e todos os jornalistas e eclesiásticos que o acompanham foram vacinados antes da partida, nenhum dos fiéis presentes no estádio ainda foi imunizado.

Apenas 50.000 doses da vacina chegaram ao Iraque até o momento e apenas os médicos puderam se beneficiar dela.

“Gesto de amor”

“É uma viagem especial também no que diz respeito às condições de saúde e segurança”, concordou Matteo Bruni, porta-voz do Vaticano. “Mas”, continua ele, é “um gesto de amor por esta terra e por este povo que Francisco queria visitar desde o surgimento do grupo Estado Islâmico em 2014 no Iraque”, e “qualquer gesto de amor é sempre um pouco extremo”.

O papa deve deixar o Iraque com destino a Roma na manhã de segunda-feira (8).

Antes de partir para o norte do país, o soberano pontífice foi a Najaf, cidade sagrada muçulmana xiita no sul, no sábado para se encontrar com o grande aiatolá Ali Sistani. O papa pediu ao aiatolá que ele trabalhe para que os cristãos do Iraque vivam em “paz”, em “segurança” e com “todos os seus direitos constitucionais”.

Muitos cristãos ainda relutam em voltar para casa permanentemente. Quando, em 2014, os jihadistas tomaram a planície de Nínive, dezenas de milhares deles fugiram e poucos agora confiam nas forças de segurança que então os abandonaram, dizem. Hoje, muitos dizem que vivem com medo dos paramilitares, que agora foram integrados ao Estado e que tomaram o lugar dos jihadistas.

// RFI

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