Uma equipe portuguesa desenvolveu um teste que, com um simples exame de sangue, permite descobrir se sofremos do mal de Parkinson.
Atualmente, os médicos se baseiam nos sintomas – como tremores em repouso, rigidez muscular ou descoordenação motora – para identificar a doença de Parkinson. Agora, uma equipe portuguesa desenvolveu um teste para facilitar o diagnóstico dessa doença neurodegenerativa.
Segundo o periódico Expresso, são quatro ‘cicatrizes’ em uma proteína específica nos glóbulos vermelhos os primeiros biomarcadores descobertos para identificar o mal de Parkinson.
Isso torna possível que, com uma simples análise ao sangue, possamos descobrir se sofremos da doença. O método aguarda agora um ensaio alargado para ser aprovado para a prática médica.
“Estamos em estreita colaboração com os clínicos, sobretudo do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, focados em testes para encontrar novas formas de diagnosticar a doença”, diz Hugo Vicente Miranda, cientista do Centro de Estudos de Doenças Crônicas (CEDOC) da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.
“Procuramos biomarcadores. Isto é, retirar uma amostra de sangue e identificar alterações que revelem a doença, e já encontramos quatro marcas numa proteína, alfa-sinucleína, que são assinaturas da doença”, explica o especialista.
A descoberta já foi compartilhada com a comunidade científica no fim do ano passado, e deverá continuar avançando até entrar no mercado. Ainda assim, Hugo Vicente Miranda admite não saber quanto tempo irá demorar “até termos um kit de diagnóstico“.
“Recorremos a um grupo pequeno de 100 pessoas, das quais 60 com Parkinson, e é preciso replicar os testes em um número muito grande de doentes, incluindo de outros países e com outras características”, afirma o cientista, frisando que só depois de obtida essa validação, o teste sanguíneo poderá sair do laboratório.
O mal de Parkinson não tem cura nem explicação clara sobre como se desenvolve. No entanto, a comunidade científica tem dado passos significativos no que diz respeito a um conhecimento mais profundo.
É o caso do grupo de pesquisa DysBrainD: Dysmetabolism in Brain Diseases, no qual Hugo Vicente Miranda é líder. O grupo acredita que em breve será possível encontrar um tratamento só com medicação. E a chave poderia estar nas diabetes.
“A ligação entre o açúcar e o mal de Parkinson tem uma evidência epidemiológica desde a década de 60 e o que fizemos foi tentar perceber as modificações patogênicas que o açúcar provoca na proteína alfa-sinucleína, levando à morte dos neurônios produtores de dopamina”, que são essenciais para o cérebro poder controlar a parte motora, explica.
O DysBrainD chegou à conclusão de que glicação – reação adversa entre açúcar e neurônios produtores de dopamina – pode ser prevenida ou controlada com os fármacos utilizados comumente para a diabetes. “Nos modelos celulares tivemos uma boa resposta e agora transitamos para os modelos animais.”
Hugo Vicente Miranda espera ter resultados daqui a três anos para sustentar a relação. “Será muito fácil transladar a terapêutica da diabetes para os doentes com Parkinson porque já está aprovada, ou seja, não seriam precisos ensaios clínicos”, conclui.
Ciberia // ZAP