Policiais são condenados a 600 anos de prisão por chacina de Osasco

Rovena Rosa / Agência Brasil

Famílias das vítimas das chacinas nas cidades de Osasco, Itapevi e Barueri

O Conselho de Sentença, formado por quatro homens e três mulheres, condenou hoje (2) o policial militar Victor Cristilder Silva dos Santos por participação nas chacinas de Osasco e Barueri, no dia 13 de agosto de 2015, que resultaram na morte de 17 pessoas.

A pena de Victor Cristilder Silva dos Santos é de 119 anos, 4 meses e 4 dias de prisão em regime inicialmente fechado.

O júri popular foi realizado no Fórum de Osasco e teve início na terça-feira (27). O policial foi acusado pelo Ministério Público e pela Defensoria Pública de ter trocado mensagens no celular com um guarda municipal para combinar o inicio e fim do horário da chacina.

Além disso, ele dirigiu um dos carros usados no crime e atirou nas vítimas. Cristilder foi acusado de homicídio e tentativa de homicídio contra 16 pessoas, com quatro qualificadoras: motivo torpe, recurso que dificultou a defesa das vítimas, formação de quadrilha e por integrar grupo de extermínio.

Segundo a acusação, o motivo da chacina foi vingança pela morte de um policial militar e de um guarda civil ocorridas na mesma semana.

O julgamento foi desmembrado em dois. No primeiro, ocorrido em setembro do ano passado, os sete jurados condenaram os policiais militares Fabrício Emmanuel Eleutério e Thiago Barbosa Henklain, além do guarda civil Sérgio Manhanhã.

O policial Fabrício Emmanuel Eleutério foi condenado à pena de 255 anos, 7 meses e 10 dias de prisão. O também policial Thiago Barbosa Henklain recebeu sentença de 247 anos, 7 meses e 10 dias. Já o guarda-civil Sérgio Manhanhã foi condenado a 100 anos e 10 meses. As penas somam mais de 600 anos.

Acusados de atirar nas vítimas, os dois policiais respondiam por todas as mortes e tentativas de assassinato. Já o guarda-civil, segundo a acusação, atuou para desviar viaturas dos locais onde os crimes foram praticados e foi denunciado por 11 mortes.

Eles responderam por homicídio qualificado, por motivo torpe, com emprego de recurso que dificulta a defesa das vítimas e praticado por grupo de extermínio, além do crime de formação de quadrilha.

Defesa vai recorrer de sentença

O advogado João Carlos Campanini, que defende o policial Victor Cristilder Silva dos Santos, disse hoje (2) que vai recorrer da sentença que condenou seu cliente a uma pena de 119 anos, 4 meses e 4 dias de reclusão em regime fechado.

Não tenha dúvida de que vamos recorrer”, disse ele, ressaltando que vai alegar que houve incoerência nas sentenças dadas a seu réu hoje e na dos demais policiais também acusados por participação nas chacinas, condenados em setembro. Para o advogado, a sentença tem chances de ser anulada em segunda instância.

“Houve total incoerência ali. O Victor era acusado de ser o chefe da quadrilha. E os jurados o absolveram em relação a existir uma organização criminosa. Ou seja, o chefe da organização foi condenado a 119 anos, enquanto os demais foram condenados a 250 anos”, falou o advogado. “O povo de Osasco, na minha opinião, ainda não tem certeza se esses homens mataram essas pessoas”, acrescentou.

Cristilder ainda é réu em um outro julgamento que ainda será marcado. Ele é acusado pela morte de um rapaz em Carapicuíba, em uma chacina que ocorreu uma semana antes das de Osasco e de Barueri, e que teria também sido provocada como vingança pela morte de um policial militar.

Para ele, a condenação do policial hoje não deve influir no outro julgamento. “Acredito que não [vai influenciar] porque cada julgamento é um julgamento”, falou.

Para o promotor Marcelo de Oliveira, a condenação do policial fez justiça. “Foi o resultado que eu esperava porque ele foi lógico, coerente com o julgamento anterior e foi extremamente justo.

O resultado demonstra que o Ministério Público é intransigente com os direitos humanos”, falou ele a jornalistas, após a leitura da sentença. Para ele, a condenação do policial hoje foi obtida pelo conjunto de provas. “Não é uma só prova, é um conjunto”, disse.

Sobre o fato da pena de Cristilder ter sido bem menor que a dos demais policiais, que foram condenados a penas de mais de 200 anos no julgamento anterior, o promotor disse que a condenação do policial foi semelhante ao do guarda-civil também condenado pelo crime. “Os dois estavam umbilicalmente ligados. Era a mesma prova. Era a coordenação do evento”, falou.

Parentes entre revolta e comemoração

A sentença revoltou os parentes de Cristilder. A tia da esposa do policial, Eunice dos Santos, disse ter achado a condenação “um absurdo”. “Foi o absurdo dos absurdos. Foi uma tremenda injustiça. Ele é inocente”, disse ela. Já a mãe de Cristilder chorou muito e saiu sem falar com a imprensa.

O tio de Cristilder reclamou que as sete perguntas que foram levadas aos jurados (entre elas, se ele concorreu para as mortes e se fazia parte de grupo de extermínio) e que decidiriam o destino de seu sobrinho deveriam ser simplificadas. Para ele, isso ajudou na condenação do sobrinho.

“O júri, infelizmente, percebe-se que eles são grandes profissionais na área em que trabalham. Mas são leigos em direito. Poderia ser simplificada a situação. Tenho certeza que eles se equivocaram, eles não reuniram condições de responder a essas perguntas”, disse Roberto Alves da Silva.

A sentença, no entanto, foi muito comemorada pelos parentes das vítimas, que abraçaram o promotor e posaram para fotos com ele, logo depois que souberam da condenação de Cristilder.

Nossos mortos não vão voltar. A justiça foi feita. Meu filho iria fazer 37 anos no dia 17. Tenho dó da família dos policiais condenados também, das mães deles, mas eles deveriam ter pensado antes de fazer as chacinas. Nós mães vamos ter que viver o resto da vida com essa dor. Nada vai pagar isso, indenização, a sentença, nada”, disse Zilda Maria de Paula.

“Estou de coração partido porque nada traz meu filho de volta. Mas há a sensação de alívio por Deus ter concedido ser feita justiça aqui na terra. Nossa luta não foi em vão. Sofro também pelos familiares deles. Entendo a dor dos familiares, mas nossa dor não tem mais volta. O que os policiais estão colhendo é o que eles plantaram, infelizmente”, disse Rosa Francisco Correia, mãe de um rapaz que foi assassinado na chacina.

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