Segundo a edição desta quarta-feira do jornal francês La Croix, o deputado e vice-presidente do partido União Civil Húngara, correligionário do primeiro ministro Viktor Orban pediu que população não consuma os produtos da Coca-Cola enquanto “cartazes provocantes” permaneçam.
Em um metrô de Budapeste, um cartaz da bebida mostra dois homens jovens, de barba, abraçados, visivelmente felizes, que dividem uma garrafa do refrigerante. Mais à frente, uma outra peça traz duas mulheres, uma de frente para a outra, que dividem o mesmo copo. No canto inferior dos cartazes o slogan: “Zero açúcar, zero preconceito“.
A campanha da Coca-Cola faz parte da campanha de promoção de um festival de música que ocorrerá na segunda quinzena deste mês de agosto.
Segundo a reportagem, a indignação foi imediata por parte dos partidários do Fidez – União Civil Húngara, partido de extrema-direita, que tem como presidente o primeiro ministro Húngaro Viktor Orban.
István Boldog, deputado e vice-presidente do partido, que em junho apelou para o cancelamento da Marcha do Orgulho LGBT com a justificativa de que estava “protegendo as crianças de aberrações sexuais”, declarou sobre a campanha publicitária, e sobre a marca que “Enquanto eles (Coca-Cola) não removerem estes cartazes provocantes da Hungria, eu não consumirei mais os seus produtos! E eu peço que todo mundo faça o mesmo! ”
Os conservadores húngaros, de acordo com o La Croix, acreditam que, com a incitação ao boicote, irão provocar uma mudança de ação da marca ao promover o festival; porém, a empresa, que está entre as mais poderosas do mundo, já se manifestou oposta às ideias de mudança na peça publicitária.
A marca se manifestou: “Nós pensamos que os heterossexuais, assim como os homossexuais, têm o direito de amar a pessoa que eles quiserem, como desejarem”.
“Ilha da Liberdade”
La Croix destaca que a opinião pública é contraria ao posicionamento dos dirigentes do partido conservador. Segundo enquete encomendada em 2018 pela ONG pró-LGTB Hatter, dois terços dos húngaros acreditam que os homossexuais devam viver segundo a orientação sexual deles, opinião esta que vem se modificando ao longo dos anos, já que há 15 anos, menos da metade da população do país pensava desta forma.
Em entrevista ao jornal, o cientista político Jacques Rupnik, especialista em Europa Central e Leste Europeu, aponta que existe o que ele chama de “teoria do complô”, praticado por supra nacionalistas de ideologias reacionárias que rejeitam o multiculturalismo, e que dizem fazê-lo por uma suposta luta de defesa contra a decomposição da sociedade, da família e dos valores cristãos, frente à ideologia liberal defendida pelas grandes multinacionais.
Sites próximos ao governo condenam o que chamam de “lobby homossexual” praticado por “fundos estrangeiros que que se esforçam constantemente em inverter a normas de gênero na sociedade.
O primeiro ministro Viktor Orban não se declarou sobre este episódio, mas no último dia 27 de julho, em um discurso em uma universidade, declarou que “a democracia liberal não é viável se as bases cristãs forem abandonadas”, e que os homossexuais “não podem fazer o que bem entendem”.
Apesar desta forte oposição, o festival Sziget, Ilha da Liberdade, um dos maiores da Europa, patrocinado pela multinacional, espera receber nesta edição meio milhão de pessoas.
// RFI