A ONG europeia Foodwatch acusou nesta quarta-feira (4) a Coca-Cola de tentar preservar o modelo de negócio “completamente ultrapassado” ao adotar táticas desesperadas, semelhantes às de empresas gigantes de tabaco, ao tentar negar o impacto dos seus produtos na saúde dos consumidores.
A associação de consumidores europeia pediu também ao governo alemão que siga o exemplo de vários outros países europeus, mais recentemente o Reino Unido, na introdução de um “imposto sobre o açúcar”, que já incentivou empresas de outros países a criar novas receitas com menos açúcar.
“As bebidas com açúcar são os novos cigarros“, declarou Martin Rücker, diretor da Foodwatch Alemanha, em coletiva de imprensa em Berlim, numa analogia reproduzida também na capa do novo relatório da ONG: o estudo mostra a imagem do icônico caubói das antigas propagandas da Marlboro segurando uma Coca-Cola em vez de cigarros.
Rücker estava sentado ao lado de uma cadeira vazia com o logótipo da multinacional de refrigerantes colada na parte de trás. O assento era destinado a Patrick Kammerer, chefe do departamento de relações públicas da Coca-Cola na Alemanha, que não aceitou o convite para comparecer à coletiva.
A organização acusou a multinacional norte-americana de usar medidas irresponsáveis de marketing e lobby para proteger sua participação no mercado global, estimada em 24%, especialmente por “visar conscientemente crianças e jovens” nas campanhas publicitárias.
Influenciar influenciadores
No relatório de 108 páginas, a Foodwatch mostrou que a empresa recrutou dezenas de estrelas do YouTube e Instagram, alguns dos quais com milhões de jovens seguidores, para fazer propaganda do seu principal refrigerante.
A Coca-Cola Alemanha alegou que não direciona nenhum anúncio para crianças menores de 12 anos, mas a Foodwatch lembrou os acordos da multinacional com a seleção alemã e a campanha publicitária anual com pais natais como prova de que a gigante dos refrigerantes tentava claramente conquistar jovens consumidores.
“Quando a buzina emite o som e o caminhão de Natal brilhante da Coca-Cola se aproxima, os sonhos de muitas crianças se realizam”, diz o slogan de um anúncio com o Papai Noel.
A Foodwatch viu paralelos com a indústria do tabaco na forma como a Coca-Cola nega que exista qualquer prova científica clara de que seus refrigerantes são maus para os consumidores.
Quase para ilustrar esse ponto, a Coca-Cola Alemanha divulgou uma declaração antes da coletiva de imprensa desta quarta para evitar críticas da Foodwatch.
“A obesidade é um fenômeno complexo. Se houvesse uma ligação simples e direta entre o consumo de bebidas com açúcar e obesidade, isso deveria estar nas estatísticas“, afirma o porta-voz Patrick Kammerer. “Mas, de acordo com os dados da Organização Mundial da Saúde, essa suposição não é verdadeira. Um exemplo: em países como a Finlândia, onde jovens consomem pouco refrigerante, há uma alta taxa de excesso de peso. Na Holanda acontece exatamente o oposto”.
Rücker, da Foodwatch, disse que esse era exatamente o tipo de ofuscação que as empresas de tabaco usavam para negar a ligação entre cigarros e câncer. “Os produtos são sistematicamente dados como inofensivos. Não refrescam: causam diabetes. E a Coca-Cola faz tudo o que pode para preservar seu modelo de negócios completamente ultrapassado”.
Tanto a OMS como a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico afirmaram que o mundo está à beira de uma “epidemia de obesidade” que causa cada vez mais casos de diabetes, gota, doenças cardíacas e câncer do colo do útero.
Segundo a Foodwatch, 80% dos estudos financiados de forma independente encontraram uma ligação entre bebidas com açúcar e a obesidade.
Ciberia // ZAP