Três adolescentes morreram asfixiados ontem (2), durante um motim em uma unidade da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase), em Vitória de Santo Antão (PE), na Zona da Mata pernambucana. Dois dos jovens tinham 16 anos. A terceira vítima tinha 17 anos.
Segundo a Funase, seis internos colocaram fogo em uma das alas do Centro de Atendimento Socioeducativo de Pernambuco (Case) no meio da tarde de ontem. A Polícia Militar foi acionada e o fogo foi controlado pelos 11 agentes socioeducativos que estavam de plantão, com a ajuda dos policiais que atenderam a ocorrência.
Quatro adolescentes suspeitos de ter participado do motim já foram identificados e, de acordo com a Funase, serão indiciados pela Polícia Civil como autores do homicídio. Os quatro foram recolhidos à Unidade de Atendimento Inicial (Uniai), onde estão à disposição da Justiça.
O Case tem capacidade para 72 adolescentes e, de acordo com a Funase, abrigava 36. A fundação já começou a investigar as causas do motim e identificar os responsáveis pelo tumulto. Segundo a assessoria da Funase, o clima no Case, hoje (3), é tranquilo.
Há pouco mais de uma semana, um adolescente que cumpria medida socioeducativa de internação na mesma unidade de Vitória de Santo Antão foi morto por outros internos. Pelo menos 32 internos fugiram na ocasião.
A coordenadora do Conselho Tutelar Municipal, Tamires Maior, manifestou surpresa diante dos últimos fatos. Segundo ela, a situação local sempre foi considerada tranquila e o Case é conhecido por oferecer aos internos um “atendimento mais humano, diferenciado”.
“Estivemos na unidade na última quarta (29), alguns dias após o primeiro adolescente ter sido morto. Os ânimos estavam bem mais calmos. Conversamos com diversos adolescentes sobre as condições da unidade e eles nos disseram que estavam tranquilos, que a rebelião tinha sido encabeçada por um grupo isolado”, contou Tamires à Agência Brasil.
Segundo ela, cinco conselheiras tutelares participaram da visita surpresa. Não foi constatado nenhum indício de maus-tratos aos adolescentes e as condições estruturais locais, de acordo com a coordenadora, foram consideradas “dignas dentro dos limites possíveis”.
“Ainda não temos informação sobre o que aconteceu ontem, mas parece haver algo que ainda não conseguimos identificar, afinal, se tudo estivesse realmente tranquilo, esse tipo de coisa não teria voltado a ocorrer quase uma semana depois”, acrescentou Tamires.
“Vamos ter que esperar o resultado das investigações, mas imagino que, a partir do momento em que novas mortes ocorreram, outros órgãos de proteção, inclusive federais, deverão se manifestar e procurar se inteirar do que de fato está acontecendo”, concluiu
Motivado por denúncias da organização não-governamental Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop) e por promotoras de Justiça e Cidadania de Caruaru (PE), o Conselho Nacional dos Direitos Humanos (CNDH) fez em novembro de 2016, uma inspeção em algumas unidades do sistema socioeducativo de Pernambuco.
Os conselheiros participantes da missão visitaram unidades de internação nas cidades de Caruaru (onde, em 30 de outubro de 2016, sete jovens foram mortos e queimados vivos) e Abreu de Lima (onde, conforme consta no relatório da missão, rebeliões, fugas e “tumultos” que resultam, no mínimo, em internos feridos, “tem sido recorrentes ao longo dos últimos anos”).
Os conselheiros também se reuniram com membros do Conselho Estadual de Defesa da Criança e Adolescente, do Ministério Público estadual e da sociedade civil, além de promover uma audiência pública na Assembleia Legislativa.
Após as conversas e visitas, fizeram inúmeras recomendações aos órgãos dos poderes Executivo federal e estadual; Legislativo e Judiciário. Entre as recomendações, está a criação, pelos governos federal e pernambucano, de uma agenda colaborativa de reestruturação do sistema socioeducativo estadual e a apresentação, pelo governo estadual, de um Plano de Emergência para a execução dessa reestruturação.