O processo de erosão das montanhas também pode ser uma fonte de gás CO2, liberado na atmosfera muito mais rápido que a absorção pela rocha recém-exposta.
A conclusão é de um novo estudo dirigido por pesquisadores da Instituição Oceanográfica Woods Whole (WHOI), publicado este mês na revista Science.
“Isso vai contra uma velha hipótese de que mais montanhas significam mais erosão e desgaste, o que significa uma redução adicional do dióxido de carbono. Afinal, é muito mais complicado que isso”, disse o autor principal do estudo, Jordon Hemingway.
A fonte do CO2 extra não é completamente geológica. Pelo contrário, é o subproduto de pequenos micróbios nos solos das montanhas que “comem” fontes antigas de carbono orgânico que ficam presas na rocha. À medida que os micróbios metabolizam esses minerais, produzem dióxido de carbono.
Os pesquisadores chegaram a essa conclusão depois de estudar uma das cadeias montanhosas mais propícias à erosão no mundo: a faixa central de Taiwan. Essa cordilheira de encostas íngremes é atingida por mais de três tufões por ano, cada um deles corrói mecanicamente o solo e a rocha através do fortes chuvas e ventos.
Hemingway e sua equipe examinaram amostras de solo, da rocha-mãe e dos sedimentos fluviais da área central à procura de indícios reveladores de carbono orgânico na rocha.
“Na parte inferior do perfil do solo, basicamente, temos rocha sem meteorização. No entanto, quando alcançamos a base do solo, a capa, vemos rocha solta, mas que ainda não está completamente fragmentada, e nesse ponto o carbono orgânico presente no leito rochoso parece desaparecer por completo”, assinala em comunicado. Nesse ponto do solo, a equipe também notou um aumento nos lípidos, que vêm das bactérias.
“No entanto, ainda não sabemos exatamente qual bactéria está fazendo isso. Para o descobrirmos, precisaríamos de ferramentas genômicas, metagenômicas e microbiológicas que não estamos usando nesse estudo. Mas esse é o passo seguinte na pesquisa”, disse o geoquímico marinho Valier Galy.
O grupo percebeu rapidamente que o nível total de CO2 liberado por esses micróbios não é suficientemente severo para ter um impacto imediato nas mudanças climáticas. No que toca ao assunto, esses processos acontecem em escalas de tempo geológicas.
A pesquisa da equipe de WHOI pode conduzir a uma melhor compreensão de como funcionam realmente os ciclos de carbono baseados em montanhas, o que poderia ajudar a encontrar pistas sobre como se regulou o CO2 desde a formação da Terra.
“Ao se olhar para trás, estamos mais interessados em como esses processos conseguiram manter níveis de CO2 na atmosfera mais ou menos estáveis ao longo de milhões de anos. Permitiram que a Terra tenha o clima e as condições que tem, que promoveram o desenvolvimento de formas de vida complexas”, salienta Valier Galy.
“Ao longo da história da terra, o dióxido de carbono se desconcertou com o tempo, mas se manteve sempre nessa zona estável. Isso é só uma atualização do mecanismo dos processos geológicos que permitem que isso aconteça”, conclui.
Ciberia // Europapress / ZAP