Os seres vivos mais resistentes do mundo passaram por todas as grandes extinções maciças, podem viver sob enormes variações de temperatura e com níveis de oxigênio perto do zero, e foram os principais “engenheiros” dos ecossistemas do planeta.
De acordo com um artigo publicado na revista Current Biology, as esponjas do mar são os animais que vão sobreviver ao fim do mundo como o conhecemos.
Elas são os seres vivos mais resistentes do mundo. Passaram por todas as grandes extinções maciças de flora e fauna e serviram como principais “restauradores” dos ecossistemas destruídos do planeta.
“Supomos que as poríferas têm essa resistência devido ao fato de que elas podem viver sob enormes variações de temperatura e com níveis de oxigênio perto do zero“, diz disse Joseph Botting pesquisador do museu Nacional do País de Gales, em Cardiff, no Reino Unido.
“Por sua vez, a sua fonte de alimentação são partículas de compostos orgânicos presentes na água, cuja quantidade aumenta abruptamente nos oceanos após a morte em massa de outros animais”, acrescenta Botting.
Os cientistas distinguem na história da vida na Terra cinco grandes extinções maciças de espécies. A última delas, a extinção do Cretáceo-Paleogéneo, ocorreu há cerca de 65,5 milhões de anos e levou à extinção dos dinossauros e de todos os grandes répteis terrestres e marinhos.
Cada um desses eventos é acompanhado por uma explosão evolucionária — rápida expansão, crescimento físico e especialização de espécies sobreviventes, que ocupam os nichos ecológicos libertados.
A extinção do Ordoviciano, a segunda maior catástrofe na história da Terra, ocorreu há cerca de 443 milhões de anos e levou à morte de 85% das espécies e 60% das espécies de animais invertebrados do mar.
Mais do que outros sofreram os ectoproctas, moluscos bivalves e corais — em alguns casos, a sua variedade diminuiu em dois terços. Muito provavelmente, a causa desta extinção foi a queda na concentração de dióxido de carbono na atmosfera da Terra e o arrefecimento subsequente.
Botting conta que a nossa compreensão desta extinção é extremamente esquemática, porque as espécies desta época quase não sobreviveram na Terra.
Os únicos fósseis conhecidos deste período foram encontrados na África do Sul há quase 20 anos, e eles são marcas no terreno de estiagens com restos de seres vivos. Sobre as mudanças que ocorreram nas grandes profundidades nós quase não sabemos nada.
Botting e seus colegas obtiveram a primeira informação deste tipo após encontrarem um “cemitério” de organismos marinhos antigos durante o estudo de rochas do período Ordoviciano no sudeste da China, na província de Zhejiang.
Praticamente todo o território da China naquela época era um mar pouco profundo nas proximidades do equador da Terra, dividido por uma variedade de grandes e pequenas ilhas.
Durante a extinção do Ordoviciano, este mar, como mostraram as escavações dos autores do artigo, estava literalmente coberto com uma floresta de esponjas do mar.
De acordo com os cientistas, eles encontraram nas florestas de bambu da China moderna uma camada gigante de rochas com uma extensão de 10 quilômetros, totalmente cheia de esponjas do mar, cujo número de espécies, de acordo com a maioria dos cálculos preliminares, é mais de uma centena.
O mais interessante é que nesses depósitos estavam presentes tanto esponjas pequenas como grandes, o que é considerado algo extremamente incomum para extinções maciças e períodos de tempo imediatamente após elas.
Aparentemente, as poríferas não só se recuperaram rapidamente após a catástrofe, mas rapidamente começaram a preencher os nichos ecológicos vazios nos baixios e profundidades dos mares. Em alguns casos, a diversidade de espécies nestes depósitos ultrapassa a que existe nos mares da Terra hoje.
As poríferas não eram os únicos habitantes dos mares daquela época. Além de suas marcas, os cientistas conseguiram encontrar na província de Zhejiang alguns fragmentos de conchas Nautilus e também marcas completas de carapaças de euriptéridos e marcas de lesmas grandes do mar.
Tanta variedade de poríferas indica que elas já por algumas centenas de milhões de anos desempenham o importante papel de principais “engenheiros” de ecossistemas da Terra, mantendo a sua estabilidade e os restaurando após a extinção.
É possível que um desastre nuclear ou a próxima extinção maciça faça com que sejam novamente as esponjas do mar, e não as baratas ou os ratos, a sobreviver. Elas vão dominar os mares da Terra até que os ecossistemas se recuperem pela sexta vez, concluem os autores do artigo da edição.
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