Um dos fenômenos mais estranhos que você pode encontrar na ciência é o entrelaçamento quântico – e acaba de ser demonstrado que pode ser real.
Entrelaçamento quântico é um fenômeno teórico que acontece quando duas partículas interagem de forma que ficam profundamente conectadas, e basicamente “compartilham” a existência, mesmo que estejam a anos-luz de distância. Alterações em uma delas provocam alterações na outra partícula.
O conceito teórico é controverso. Até o ilustre físico Albert Einstein, que não concordava com a ideia, afirmou que ela era demasiado estranha para ser real.
Mas agora, um novo experimento é a prova mais forte de que afinal o polêmico entrelaçamento quântico é real.
Pesquisadores do MIT (EUA), Universidade de Viena (Áustria) e da China e Alemanha acabaram de fechar uma lacuna da mecânica quântica, relacionada ao entrelaçamento quântico. O estudo foi publicado na revista Physical Review Letters.
A lacuna que foi fechada é a da liberdade de escolha, que sugere que fatores humanos – como a montagem do experimento, a escolha das partículas que serão entrelaçadas e as propriedades que serão medidas, entre outros fatores – podem acabar dando destaque a algumas variáveis que mostram o entrelaçamento quântico quando ele não está presente.
“O ceticismo em relação à mecânica quântica diminuiu consideravelmente”, diz o pesquisador David Kaiser, professor de física no MIT. “Ainda não nos livramos dele, mas o diminuímos em 16 ordens de magnitudes”.
Para tentar ser o mais aleatório possível, o grupo de pesquisadores decidiu observar fótons muito antigos de estrelas distantes. Eles se concentraram em estrelas capazes de enviar fótons azuis e vermelhos em nossa direção. A mais próxima delas esta a 600 anos-luz da Terra. Ou seja, a luz levou 600 anos para chegar até nós.
O grupo instalou dois telescópios, um na Universidade de Viena e outro na Academia de Ciências da Áustria para receber fótons das estrelas, que foram então medidos.
Aqui está a chave desse experimento: como a luz da estrela não se altera no caminho, isso significa que qualquer variável não-quântica escondida que está influenciando as partículas provavelmente aconteceu antes da luz ser emitida.
“Encontramos respostas consistentes com a mecânica quântica em um grau fortíssimo, totalmente fora de sintonia com previsões ao estilo de Einstein”, diz Keiser.
“Todos os experimentos anteriores podem ter sido submetidos a esta estranha lacuna para explicar os resultados observados microssegundos antes de cada experimento, comparando com os nossos 600 anos. Então é uma diferença de um microssegundo para 600 anos, ou seja, 16 ordens de magnitude”, aponta ele.
O estudo não fechou completamente a lacuna da liberdade de escolha, mas pela primeira vez confirma que as características esquisitas da mecânica quântica já existiam pelo menos há 600 anos, e os pesquisadores agora querem aumentar este tempo de análise ainda mais.
Esse experimento é um exemplo de como melhoras na tecnologia nos ajudam a observar melhor o cosmos e entender como as coisas funcionam – e talvez um dia com esse conhecimento construir coisas hoje impossíveis, como o teletransporte.
// HypeScience