Uma empregada doméstica caiu de uma janela do sétimo andar, no Kuwait, enquanto a sua empregadora filmava tudo, sem ajudá-la. O caso está gerando revolta e defensores dos direitos humanos afirmam que o fato exemplifica o abuso generalizado sobre os trabalhadores domésticos na zona do Golfo Pérsico.
O vídeo começa com a empregada, que seria de origem etíope, pendurada na janela apenas por uma mão gritando por ajuda. “Me segure, me segure”, diz a mulher, conforme a tradução do jornal Kuwait Times. “Louca, volta para dentro”, responde a patroa enquanto continua gravando, conta a publicação.
A empregada acaba caindo em cima de um toldo que amorteceu a queda, sobrevivendo assim, ao incidente apenas com um braço quebrado.
A patroa foi detida pelas autoridades e teria alegado que a empregada estava tentando se suicidar e que não a ajudou para não ser acusada de homicídio.
A políciainvestiga o caso. O advogado Nouf Al-Ruwaih explica ao Kuwait Times que a mulher pode ser acusada de negligência ou de falta de auxílio, resultando, nestes casos, em uma pena máxima de três meses de prisão ou numa multa.
Ainda segundo o jornal, a empregada teria sido dada como desaparecida pelo seu empregador original, em 2014, e teria sido contratada pela atual patroa de forma ilegal.
Escravatura moderna
No Kuwait há cerca de 600 mil imigrantes, de acordo com estimativas da organização não governamental Human Rights Watch que tem recolhido vários casos de abusos e de exploração destes trabalhadores.
O jornal norte-americano The Washington Post refere que “não é a primeira vez que um empregado doméstico cai de um edifício no Kuwait”.
Há relatos de patrões que atiram empregadas de janelas do terceiro andar, como forma de castigo, e alguns trabalhadores saltam eles próprios pela janela para tentar escapar dos abusos dos quais são alvos. A argumentação dos patrões é, então, de que tentaram se suicidar.
Em um país rico em petróleo, com cerca de 3 milhões de habitantes, contratar empregados domésticos é prática acessível a muitas famílias e milhares de imigrantes estão dispostos a trabalhar por pouco dinheiro, ficando à mercê da exploração dos seus empregadores.
A Human Rights Watch aponta casos de patrões que encerram os seus empregados em apartamentos, não lhes permitindo sequer sair da casa e os agredindo.
Em 2015, o Kuwait aprovou a primeira Lei de proteção aos trabalhadores estrangeiros proibindo os empregadores de confiscarem passaportes, concedendo um dia de folga por semana, férias pagas e um máximo de 12 horas de trabalho por dia.
Mas na prática, aquilo que é recorrente é a chamada lei da “kafala“, em que os imigrantes abdicam de direitos para conseguirem um visto de trabalho.
É uma forma de escravatura que é um pouco generalizada em todos os países do Golfo Pérsico. E o Kuwait é visto como o mais progressista de todos.
// ZAP